SAUDADE
Não tinha.
Agora sei o que é.
A leve dôr no peito
situada no coração
que antes nem sentia bater.
É uma dôr de ausência
o vazio do outro
o da sua presença
ao meu lado em silêncio.
2 de Fevereiro, 2025
SAUDADE
Não tinha.
Agora sei o que é.
A leve dôr no peito
situada no coração
que antes nem sentia bater.
É uma dôr de ausência
o vazio do outro
o da sua presença
ao meu lado em silêncio.
2 de Fevereiro, 2025
FOTOGRAFIAS
Podem ser enganosas.
O que fixaram não corresponde
ao que afinal julgámos estar a ver.
Julguei que seria do jardim de Mignon
o limoeiro solar tão desejado.
Mas não
era mais terreal
a mulher que não era Mignon
e segurava na mão duas maçãs
da árvore do paraíso
uma seria para ela, outra para ele
o Adão castigado por mentir
escondendo do criador
o pecado por ambos cometido
a descoberta do corpo terreal
o fruto proibido
da origem da vida
que residia neles
mas ainda escondida
e só deus poderia deixar
adivinhar.
Adivinhar sem ver
adivinhar confiando
no que podia de bom ou de mau
acontecer. Aquelas maçãs
nas mãos daquela mulher
que acreditava na força
que elas tinham
era a ela que davam o poder
da árvore da criação
as raízes no céu
os seus frutos na terra
de que só ela cuidava
pois ficara com as sementes
do eterno saber da vida
de que a serpente falara
e ela, mulher, escondia.
Mulher de beleza eterna
que deus elevaria
deixando o homem só
e sem sabedoria.
29 de Janeiro, 2025
AS GAVETAS
Eu estava bem arrumada
tranquila e mui
sossegada
com duas gavetas mentais
uma aberta outra fechada.
Na aberta tudo em ordem
com cuidado vigiada
qualquer um podia ver
que não se passava nada.
trocaram-me de gaveta
fui para a gaveta fechada
a outra ficou a um canto
como se abandonada
já não servisse mais
e a ordem não me fizesse falta.
Dei comigo tão confusa
num espaço desconhecido
ali tudo em desordem
eu sem saber fazer nada
a ordem da outra gaveta
alguém a tinha cuidada
mas ali ninguém estava
que ao menos me desse
a mão...
o esforço seria meu
que não estava habituada.
Perdida estava a Razão
a velha dona de casa
e ali só Emoção
uma louca tresloucada
num sótão desconhecido
de que nunca me falaram
e eu dentro de outra gaveta
também não desconfiara.
Agora como lidar
entregue ao desconhecido
numa gaveta fechada
que só eu podia abrir
para o tornar merecido
sem que ninguém me avisasse
caso houvesse algum perigo...
27 de Janeiro, 2025
O desafio começa logo no título: o que é este mim e que coisa o impossibilita de um acontecer, o acontecer que se revela igualmente enigmático?
O que é o acontecer, se não é um acontecer, uma coisa que acontece, pode ser qualquer coisa banal e sem mistério? Todos os dias acontecem coisas, uma melhores outras piores, outras indiferentes a toda a gente e não apenas a quem escreve este MIM? E se o escreve, não aconteceu já, ou não está a acontecer?
Teremos de ler o livro, ler sem ideias pré-concebidas nem preconceitos pois haverá no decurso de uma narrativa solta, ainda perto do surrealismo provocado, não por alguma substância que acelere mas por um torrencial desejo de se exprimir, ora no eu ou pelo eu, para chegar ao menos fácil mim, conceito mais fechado sobre si, mais difícil de se explicar quando se derrama numa linguagem de metáforas literárias, orgânicas, científicas a uma velocidade que nem sempre se consegue acompanhar.
E será necessário acompanhar, ou aceitar essa impossibilidade anunciada logo de início? O acontecer que aqui se introduz, perturbando o discurso teria mesmo de acontecer? O próprio autor nos desvia de buscar um sentido. Aceitemos que nada tem sentido, que é tudo aleatório, dormiremos mais sossegados, acordaremos mais disponíveis para continuar a aventura da vida. A quotidiana, com os seus imponderáveis, à profissional com as suas variantes, que podem ir do sucesso ao desespero de algum amor não dito, numa profissão que o proíbe.
O que se faz deste mim, que não pode acontecer, o que se faz de um eu que não pode revelar-se ampliando - se num Eu superior, diria Jung, sublimado pelos múltiplos degraus das escadas que foi subindo até uma espécie de revelação mística final?
Ao ir lendo, com atenção, conseguiremos separar o mim do eu ? Na psicologia junguiana eu tentaria reflectir sobre o Ich e o Selbst, mas Nuno não é tão decifrável, nem permite que tentemos essa louvável caminhada. Ele de imediato, nos parágrafos seguintes, nos retira as escadas, os possíveis, ainda que para nós frágeis, pontos de apoio.
O seu discurso é para ser sentido, não entendido nem racionalizado. Ilustra? Por vezes, para dar migalhas à nossa inteligência neuronal. Mas as metáforas de que ele se serve, com que nos surpreende, têm outra raízes, não do lobo frontal, mas de um corpo rasgado por uma anatomia nua e bruta, e que só ele consegue recompôr e devolver a um imaginário mais normal. Sai do sistema, se é do sistema que o leitor está à espera. Sai da regra, é mais fundo e perigoso o seu jogo de dois eus, um dos quais é o mim, o tal impossibilitado do acontecer. Precisamente por ele, Nuno, o sujeito e objecto de toda a reflexão.
No capítulo 3, talvez devesse dizer parte 3 do volume, que podemos ir lendo um pouco ao acaso, como a mão que Nuno deixou correr sobre as folhas, ou o teclado, fiquei supreendida. O título "pré-natureza, a sua bondade" evocava o princípio dos princípios, o anterior ao verbo criador, o nada que existiu antes de tudo ser tirado dele por um sopro que carregava a existência da vida e que Nuno Félix apresenta como "um período que antecedeu a natureza" (p.87), explicando logo a seguir que não se podia falar de período, pois o tempo era "síncrono" e era indistinto tudo que nele se continha. Avisa que não vai falar, como Harari da história da humanidade, nem da evolução da espécie, natureza e bondade. Bondade? Eis um termo que carece de reflexão. Nasce pura, a humanidade, no primeiro ser criado, que logo peca e é castigado? Ou o seu pecado foi fruto da inocência que só nas crianças se encontra, quando nascem e crescem numa confiança entregue e cristalina a quem delas se ocupa? Eis um novo capítulo que se abre aqui, na verdade: a inocência que tem de ser protegida, as perguntas directas que só as crianças fazem e para as quais os crescidos não terão resposta, o espanto perante o real que é o mundo, e que se resume no espaço da família onde uma criança pode ser feliz . Eis um termo que se introduz no discurso, ou melhor vários termos, que a ideia de família, comunidade primeira que partilha a vida e o desenvolvimento que se tornará social, complexo, com o tempo ( a vida e a morte não serão síncronas como no princípio de tudo) e que Nuno Félix nos dá para aprofundar. Reflecte sobre a infância:" eu sei que tive uma infância qualquer, embora dela não guarde qualquer memória". E segue, ora com ironia, sobre os que falam de ter tido memórias pré- uterinas, ora sobre o que a memória de facto pode ser: " falar de experiências que nos influenciaram, nos traumatizaram, nos fizeram repensar a vida e mudaram o nosso comportamento (...). Ainda, como que por acaso, "ter Mãe é um estado da alma". E prossegue reflectindo sobre o que acha fascinante numa criança, parágrafo longo que desenvolve porque de facto numa criança é fascinante que ela tão pequena tenha uma opinião sobre o que a rodeia, que a nós tanta vezes (sempre? com aquela simplicidade?) nos falta.
Interessante achei que Nuno Félix, de leitura densa, escolha neste capítulo procurar um caminho que nos conduza à simplicidade (aparente) de um tema como da infância, sua ou de outros - pois todos os que o vão ler nasceram, cresceram...e não é mau que pensem sobre a complexidade do que é ter nascido, porquê e para quê, ou citando o meu eterno Hofmannstahl recuperar se possível o sentido da vida e dos sinais que nos dá.
Não vou resumir, seria reduzir, o resto do percurso que Félix vai atravessando enquanto atravessa os factos da sua vida, ou do pensamento sobre eles.
Está na hora de ser o leitor a ir tirando as suas conclusões. Serão sempre parte incompleta do que o autor nos oferece. Mas continuemos, o empurrão é forte.
A meio do livro, depois de uma reflexão quase bondosa, amável, que atravessa episódios da família, entramos noutra fase, noutro modo que só consigo exprimir melhor em francês (influência de Sade?) : un déferlement de violence et de rage contre soi-même et les autres qu'il a appris pendant sa vie à connaître. Rien n'est pardonné , tout sera dit, "pour que sa quille éclate..." comme le désire Rimbaud.
Já não é de nem do mim nem do eu que se trata é do todo que o homem representa, desde o primeiro momento em que foi criado. Esse todo é o que se procura. Procura-se para saber, para conhecer melhor as metades de que somos compostos, que mão as tirou do lodo, que mão as dividiu e nos faz ser o que somos.
O mim, explica-me em conversa Nuno Félix, é mais abrangente, porque sendo a energia inicial ainda não definiu uma orientação que se estreita ao evoluir para o eu. É então nesse sentido que o autor de modo tão claro me explicou, que agora posso abordar os outros temas para os quais vai conduzindo o leitor.
Hesito. Vou lendo, como espero que outros leitores o façam, tomando cada reflexão pelo que ela é, e pode adiante ser contrariada por outra.
É no desacordo que reside a criação possível, o caminho, ainda que incerto, para um eu que se constrói entre o ruído ou o silêncio, tantas vezes impossível de admitir. O Verbo nasceu de um silêncio que lhe foi prévio, e não o conseguiu conter. Por estas páginas passa um resumo da condição humana, observada à lupa, no seu melhor, e sobretudo agora a caminho do fim da leitura, no seu pior. Nuno escalpeliza a alma, disseca o corpo, usa de uma linguagem crua, que não recusa porque a conheceu (está atravessada no caminho do esculpir de um eu vivido) e não vale escamotear o real que se conhece e reconhece e define, quer se queira quer não, o que é SER HUMANO.
O que nos levaria agora para outro livro...
GUERRA e PAZ
(o impossível Acordo)
Discute-se nas imagens
que a televisão nos mostra.
Podemos ou não podemos
acreditar?
Rostos de desespero
Não vemos o céu que imploram
cada um terá o seu.
Não estão lá as estrelas
que dariam boas novas...
Vemos só tachos vazios
implorando agitados
lembrando que a fome é grande
e se morre na guerra
uma descida ao Hades
por alguns desejada
por outros tão temida
que num último apelo
ainda gritam onde está
o deus que nada faz?
16 de Janeiro, 2025
A CASA
Devagar já tinha começado a desfazer-se.
O chão, as janelas, a porta.
Não era preciso bater
já nem sequer a chave funcionava
era só empurrar
e ver quem vinha lá.
Não vinha muita gente
não era sequer esperada
sentia-se a presença
de quem já tinha estado
e não estava mais.
9 de Janeiro, 2025
NEXUS, de YUVAL NOAH HARARI - começa uma nova leitura, como se começa uma nova aventura. Sem saber onde conduz, ou se por incapacidade nossa se tem de ficar a meio, mas sem ter de voltar atrás. Ficar a meio, se já se leu o bastante para ter noção disso, não é mau.
Mau é não fazer o esforço de ler, porque ali, nesse livro, se discute o futuro (possível? provável, certo?) da humanidade como a conhecemos até agora. E mesmo este agora o que significa para uns e para outros?Homo Sapiens foi o título da primeira obra que chamou a atenção dos leitores críticos da obra e do mundo.
E Harari logo questiona o termo Sapiens. Porque irá discutir o conhecimento e capacidade tecnológica adquiridas pela comunidade humana do conceito de Sabedoria, sapiens, sapiensia, desse conhecimento. Este foi o que deu poder, veja-se a ciência em todos os variados domínios, medicina (ainda que primitiva, das primeiras comunidades formadas e detentoras do conhecimento de ervas, de plantas, de animais) mas o poder não conferiu o Saber da existência, do seu sentido profundo, o que deixa o ser humano, no dizer de Harari, numa crise existencial. No decurso do livro percebemos que se pretende chegar, depois de séculos de progresso, ao problema da Inteligência Artificial com os riscos que nos faz correr, se o poder que se possui lhe fôr entregue sem mais. Discute-se então liberdade e regulação que não permita à IA um poder absoluto, destruindo pela sua capacidade tecnológica o orgânico que nos constitui, e ao mundo.
E levanta-se logo outra questão: se somos tão sábios, como nos tem sido impossível parar a nossa auto-destruição, que se foi tornando cada vez maior e mais visível? O conhecimento não deveria sustentar a sabedoria? Aumentando-a em vez de poder levar a toda a destruição do que fomos sendo, enquanto criaturas, organismos dotados de vida, corpos em busca de um caminho, de um sentido?
Harari quer uma resposta que não tem sido dada à grande questão da vida : "quem somos? a que devemos aspirar"? (Prólogo, xii). E continua, com um pensamento mais simples "o que é uma vida boa? e como a devemos viver? "
Assistimos no século XX a grandes catástrofes como o Nazismo e o Stalinismo, apesar da evolução desde o homem das cavernas, que nos deveria ter conduzido a uma sociedade e uma vida bem diferentes. Não diria felizes (o que é isso de felicidade?) nem perfeitas, pois duvido que nem em Deus exista perfeição. Contudo em que melhorou com a evolução gradual, milenar, a compreensão de nós próprios e do nosso papel no universo? Pergunta sem resposta, ainda hoje.
Somos competentes a adquirir informação e poder, mas muito menos a adquirir sabedoria. Harari recupera a ideia de antigos mitos de que algum pecado original, algum crime profanador da essência dos deuses, um excesso da ambição de lhes ser igual ou ainda mais poderosos (basta recordar Platão e o mito do Andrógino, ou Phaeton a querer conduzir a carruagem do sol: Helios, seu pai, adverte que não é possível aos humanos controlar os celestiais cavalos que puxam a carruagem e que não será bem cedido, fazendo incorrer em grande perigo tudo o existe ali, à roda do seu pai, como vem a acontecer, fazendo com que até o mundo quase se extinguisse nas chamas desencadeadas, queimando tudo o que existia, até que Zeus intervém e restaura a ordem nos céus. Aqui temos castigo, mas há uma ordem superior que surge e corrige os estragos. Em resumo, é nos antigos mitos que se procuram as primeiras explicacões para o mistério da existência do universo e do homem nas suas imperfeições.
Harari recorre à sua enorme bagagem cultural para dar seguimento à aventura da busca de um saber inacessível, como no Aprendiz de Feiticeiro, (ou mais seriamente no Fausto digo eu) e chega às perplexidades modernas, não menos misteriosas e sobretudo inquietantes, porque possuindo um poder que antes a magia de uma poção ou de uma vassoura não poderiam dar.
Onde fica então o Sapiens de que se falava? Era outro mito?
O que é afinal a sabedoria?
Talvez muito simplesmente o ter adquirido um conhecimento que nos levou à concepção e construção de uma Inteligência Artificial que em muito (esperemos que não em tudo) nos pode substituir, aliviar ou corrigir os nossos erros, aumentar gradualmente a sua capacidade e inteligência e cada vez mais o poder que tem de se aperfeiçoar até ser uma criatura tão próxima de nós que nos possa representar em todas as circunstâncias - a sabedoria seria então não permitir que tal aconteça. Porque com a ilusão ( ou realidade de um poder "indestrutível" se pode acontecer o melhor, pode acontecer o pior, a autodestruição da própria humanidade, que fora a criadora...
Em regra é o que tem acontecido, podendo ser possível acontece o pior. E aqui no caso a história dos mitos clássicos bem o demonstra, como se fossem lições para um futuro já presente.
Outra questão que nos interpela, tendo a ver com a comunicação - que a IA também nos coloca - é se agora, no mundo globalizado que permite uma teia rápida, para não dizer instantânea de interacção afinal comunicamos mais ou menos uns com os outros, e importância que isso pode ter, na qualidade de criaturas orgânicas que ainda somos. Beneficiamos com tanta informação e tanta rapidez como seres que ambicionam, por enquanto vir a ser sábios? Ou a sabedoria fica pelo caminho e somos apenas contentores de conteúdos avulsos, abundantes, até demais, em excesso e que nos afogam nesse excesso que impede uma ideia própria, independente e solta do lixo que a abundância traz consigo, por não acrescentar nenhum sentido que ajude à progressão, sim, mas da sabedoria verdadeira.
Num dos capítulos, THE NETWORK IS ALWAYS ON, define-se bem que o facto da internet que é uma teia perniciosa para a nossa mente, estar sempre ligada, é algo que além de ser viciante, na realidade não acrescenta qualidade ao pensamento (sabedoria) mas antes o reduz ao instantâneo, que impede que se distinga entre o bom e o mau, o útil e o inútil, o pleno de uma ideia sólida e o vazio de coisa nenhuma. Eis um dos perigos que Harari aponta, na transição que já está feita para a IA, pois é-lhe conveniente que tal excesso e tal velocidade, a ela IA, ajude ao seu progresso em matéria de poder. O indivíduo que não tem tempo para pensar, escolher, decidir é a vítima fácil e desejável de um algoritmo qu foi concebido para o Poder, para mandar sem que nada o questione.
O capítulo 9 é para mim dos mais interessantes. Aborda a democracia, somando algo que lhe está na raiz : CAN WE STILL HOLD a CONVERSATION?
Ainda somos capazes de ter uma conversa? Subentenda-se que seja reflectida, com sentido, perseguindo um fim útil à sociedade, para uma escolha do poder que o tempo da solução ganhadora, transitória ( por não se tratar de uma ditadura onde não haveria escolha, apenas obediência dispensando o pensamento) implica.
Harari não garante que sim, ainda somos capazes de conversar uns com os outros, sem manipulação. Mas a manipulação está em todo o lado, desde os anúncios dos produtos de televisão, escolhidos por um algoritmo e não por uma pessoa como nós, aos media em geral - é uma tão grande poupança não ter de discutir ordenado com o editor - e agora a nova invenção dos influencers - veja-se a rapidez com que em Portugal e no mundo se adoptou o termo! Temos equivalentes, mas não se perdeu tempo a ver.
Harari não aborda aqui a questão do tempo, mas a da comunicação entre os seres - uma pergunta, uma resposta - uma concordância, uma discordância, chegndo ou não a alguma conclusão final. Não, Harari aponta o problema, grave, de que se perca essa capacidade, o algoritmo da IA resolve e dita, sem questionar os resultados que da escolha possam advir, negativamente, para a espécie e para o mundo. Faz o historial das democracias, como surgem e evoluem, e das ditaduras, sublinhando o seu receio da fragilidade das democracias tal como se formaram. É o olhar de um historiador atento às vicissitudes da evolução política e da espécie, num mundo caótico.
Valeria a pena, sendo assim, pensar numa vida melhor e mais feliz, e o que seria neste caso esse difícil conceito de felicidade que desejaríamos viver?
A CRIAÇÃO
Deus não foi generoso.
Não deu àquele par ainda unido
tudo o que podia dar.
Uniu
para melhor dividir.
No Jardim que se diz belo
fez o mesmo: frutos contrários:
de um se poderia comer do outro não.
Obediência ou castigo,
as formas que Deus deixou para escolher.
Iludiu, como a serpente, as duas Criaturas
com as duas ideias que ainda prevalecem:
Conhecimento ou Vida eterna - sabendo que a vida eterna
nunca seria concedida e o conhecimento uma causa perdida.
Perdidos, expulsos até da sua unidade primeira
assim condicionou Deus a sua Criação.
Nunca Deus perderia o seu Poder de fazer e desfazer
e nunca daria o porquê a conhecer fosse a quem fosse
maculando o mistério dito da Criação.
Fora tirada de um Nada, espaço ainda não desenhado
até que Deus pensou nele e a Criação nasceu.
Mas nasceu, de maldade, deformada.
1 de Janeiro, 2025