Sunday, July 19, 2015

As falsas Odes de Ricardo Reis....

Estava em Coimbra, a acabar o Liceu, quando li pela primeira vez Ricardo Reis.
Durante anos foi o meu heterónimo preferido.
Agradava-me aquele distanciamento elegante, quase frio, que se desejava despido de sentimentos, de sensações, de entrega a uma pura contemplação de outra coisa.
Jovem como era, tinha dezassete anos, lia e não me interrogava sobre o que seria essa outra coisa objecto de um desejo tão intenso que tudo o mais impedia: um gesto mais amoroso, por exemplo, mesmo quando se dirigia a uma amiga ou companheira ali presente a seu lado.
Esse ser feminino, a seu lado, não tinha existência própria, era apenas o eco ou o reflexo do próprio impulso, do seu dizer despido. Se hoje posso pensar que talvez fosse uma pálida Anima, na altura não pensei nada.
Li apenas, entregue a esse prazer deslizante da palavra.
O mesmo como é óbvio, com tantos e tantos anos de leitura e reflexão repetida, para entender mais e melhor o que ali acontecia de diferente, de estranho, de inovador, não me acontece agora.Mas reconheço que do projecto que se queria fundador de um Sensacionismo proclamado como doutrina do grupo de Orpheu, na minha opinião pouco se salva: a obra de Mário de Sá Carneiro, sensacionista e mais, sensualizada até ao paroxismo que só voltamos a encontrar em algum Álvaro de Campos, nas suas Odes, como por exemplo a Ode triunfal. Esta cumpre o conceito e a definição : glorifica o tempo que é o novo tempo das fábricas, da luz eléctrica, do grito tão ansiado do Progresso, da revolução tecnológica. Esta é uma Ode, pois glorifica, extática a era das mudanças. É um Cântico de êxtase e louvor, como o definido no velho Aristóteles, na Poética que o Modernimo ia descontrair, renegar, virar de pés para o ar.
Liberdade total, em tudo, e de todas as maneiras.
Ora eis-nos aqui de repente com o matreiro Pessoa/ Reis a jogar connosco, seus leitores, admiradores, seguidores até, no exercício e no pensamento, fingindo que escreve Odes que o não são de verdade, pois já na escrita e no pensamento  que para nós finge descodificar, desarticula, descodifica o género, fazendo dele outra coisa. Um exercício de instauração de mais uma das formas do Modernismo em voga.
Logo na primeira interpela o Mestre ( que pode ser Caeiro, mas sabemos que não é, é um Outro eu a quem se dirige e com quem gosta de dialogar. É ele mesmo, sempre ele mesmo....ora próximo, ora distante...
E naõ escreve, neste dialogo, um hino de glorificação, nem ao Metsre, nem aos novos momentos que chamados a viver.
Nada disso, oferece flores que evoquem horas perdidas, placidamente!
Descreve um sentimento que entorpece, que adormece, que aspira à dissolução de uma vida não desejada e que aspira a não viver.
Vida neutra, sem tristezas nem alegrias, sendo que é essa a tal sabedoria que apresenta ao seu Metsre, incitando a que pense nisso e faça o mesmo...
Contraditórias pulsões de uma alma ferida que Pessoa, ao recuperar as imagens de crianças-Mestras aponta pra um Caeiro que já sabemos não ser nem saber mais do que ele mesmo.
Surge o verbo olhar, surgem os olhos que olham, uma natureza tão abstracta que nos deixa espantados. Não é por evocar o rio, a estrada, que se supõe que observe, que estará de facto a viver. Não está, está a esquecer, mais uma vez a esquecer...
A única realidade é a do Tempo cruel que devora os seus filhos.
Temos aqui um apontamento dos mistérios pagãos da Grécia, com os seus mitos.
 Mas Ficamos com um Ricardo Reis que ainda não se separou de uma falsa ideia: ser também ele uma força desse sensacionismo que não consegue afirmar-se. Porque será sempre impossível para um criador como Pessoa amar mais do que ser amado, entregar-se a paixões, sabendo que toda a paixão destrói porque anula um Eu ainda em construção, um Eu que escolheu para si uma encruzilhada de caminhos e ainda não colocou ao centro o sinal mágico, um Verbo único e redentor.
Entre 1913 e 1914 surgem, na verdade, em simultâneo, Reis e Caeiro, embora saibamos que além das datas de alguns dos poemas e já com assinatura, outros lhes foram acrescentados, sem data nem assinatura - pois nada disto foi publicado pelo poeta em sua vida, mas por amigos mais tarde e por estudiosos ainda mais tarde.
O que torna mais sugestiva ainda a ideia de que algo mais se passa, de mais fundo, além do projecto da inovação sensacionista do Orpheu, que ficou pelo caminho.
Pessoa escreve até morrer, em 1935.
Pelo seu caminho passam projectos, deuses e sonhos jamais realizados.
A não ser o grande, o maior de todos, o que pareceria impossível, de ele acabar por ser o autor,  único, inimitável, de toda uma literatura, onde até o género de uma epopeia lírica, messiânica, como a da Mensagem seria também ela desconstrutora do género.
É uma obra que teremos de situar entre Camões e Vieira, entre o real, o sonho, o mito e a utopia.
"Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita"
Com estes versos, aparentemente tão simples, lá vamos com o poeta entrar na funda discussão do que é o amor, o amar, a liberdade, o limite - e assim transgride ele mais uma vez o género que devia ser de encómio, numa Ode. Não há encómio ao sublime sentimento, à sublime emoção de amar.
O amor não é libertação, é sofrimento e tudo o mais que o poeta rejeita, se transposto esse limiar.
Pede aos deuses, nestes versos, que lhe concedam o viver "despido de afectos", com " a fria liberdade /dos píncaros sem nada".
Sem nada - nem sequer a sensação do que lhe seja concedido.
Não diria que se trata de mais uma contradição de um Pessoa súmula de todas as contradições em matéria de doutrina. Não o que digo é que em cada voz diversa o que se descobre é a coerência profunda da recusa: tudo recusar para tudo obter, na variedade cultivada.
Vai longe o culto da sensação, e quanto mais passam os anos mais se afirma a voz de Pessoa-ele mesmo, o Mestre, o Mago, o Guia, e o fascínio com que perplexos quantas vezes o lemos.
Eu dei como título ao meu segundo romance precisamente Não Só Quem nos Odeia, publicado outrora na Portugália Editora, na colecção jovens romancistas, e que saiu no Mercure de France, dois anos mais tarde com o título de Pas Seulement la Haine, pela mão de René Bandé (pseudónimo) estávamos em 1968 e começava um olhar interessado pela nova produção em Portugal.
Só mais recentemente, em TRÊS HISTÓRIAS DE AMOR, na edição da antiga ASA, agora LEYA, este meu romance foi de novo publicado, junto com outros. Temas centrais, o amor e suas impossibilidades.
A liberdade que Pessoa tão ardentemente deseja não permite a entrega, ninguém dá, para que não se exija receber:
"Não quero, Cloé, teu amor, que oprime
Porque me exige amor. Quero ser livre."
Tem a consciência de que não há entregas absolutas, que nada pedem em troca...e que a paixão ou o amor do outro que nos ama é bem mais perigosa e opressora do que a nossa por esse mesmo outro....Só a abolição do outro, e do sentimento do outro em nós, a sua marca, nos permite ser o que podemos ser, ou vir a ser.
Nunca foi fácil, para o nosso poeta, a entrega que qualquer sentimento exige.











Thursday, July 16, 2015

Pessoa e Cia.

Foi um acaso.
Vim aqui, porque a letra do Facebook é mais incómoda, e também porque o FB é mais brincadeira do que outra coisa.
Fernando Pessoa, que às vezes só leio para contrariar os fervorosos- onde há excesso de fervor não há verdadeiro amor-
de vez em quando como que chama por mim.
É Mestre e Mago, embora, como Próspero na Tempestade, abdique, ou finja abdicar, do seu poder. Shakespeare estava na lista dos autores que Pessoa desejara traduzir e publicar. Fazia parte de uma lista de Grandes Autores universais, nota à mão, num papel do espólio. Também o Fausto de Goethe constava dessa lista. Para dizer o que penso:
que Pessoa, na sua devoração de leitura, assimilava e transpunha para a sua criação, temas e motivos alheios que também a ele o faziam pensar, isto é, criar.
A criação é nele uma forma de pensamento ampliado, ordenado.
É da janela do quarto que  vê o mundo. O mundo existe lá fora, como se diz em Caeiro, num campo de rebanhos abstractos, numa feira onde se inventam crianças inexistentes, ou fogem bolas que ninguém chutou.
Lá fora, a realidade.
Mas o que é a realidade, se para Caeiro não chega a ser coisa nenhuma?
A realidade é o amontoado não de sensações, mas de pensamentos na cabeça, a gaveta ideal, onde tudo se enfia, onde o mundo cabe todo inteiro.
E a que obedece o tremendo impulso de dizer? À necessidade de existir? De se sentir existindo, ainda que só em pensamento? O velho ditame de Descartes: penso logo existo?
Não, Caeiro não é o Mestre das sensações, mas Pessoa é o Mago da anulação, como se a perfeita anulação abrisse, nesse espaço do Nada, o Todo de uma consciência que se sabe existir, mas tem de ser anulada para ser deveras conhecida.
É complicado, e pouco tem a ver com a ignorância feliz da ceifeira, que é feliz  (mas quem sabe definir o que é ser feliz) porque ignora o que é e apenas se limita a ser, sem o saber...claro que é complicado, e poderíamos ficar aqui em infinita hesitação.
Mas se não fosse assim, não seria Pessoa, ainda menos Pessoa e cia. A realidade não precisa de mim, diz Caeiro. Com ou sem ele, o mundo continuará. Sabe que mente, quando exclama, noutro verso, que é fácil de definir....e afinal o que diz de si mesmo, enquanto "discute" com o filósofo (Platão, o das Ideias, o que logo demonstra que, não se tratando de Spinoza, o panteísta, é inútil tentar definir Caeiro como grande panteísta; não é):

Se a alma é mais real
Que o mundo exterior, como tu, filósofo, dizes,
Para que é que o mundo exterior me foi dado como tipo da  realidade?

Se é mais certo eu sentir
do que existir a coisa que sinto -
Para que sinto
E para que surge essa coisa independente de mim
Sem precisar de mim para existir,
E eu sempre ligado a mim-próprio, sempre pessoal e intransmissível?

Para que me movo com os outros
Em um mundo em que nos entendemos e onde coincidimos
Se por acaso esse mundo é o erro e eu é que estou certo?
Se o Mundo é um erro, é um erro de toda a gente.
E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas.
Coisa por coisa, o mundo é mais certo.

Mas porque me interrogo, senão porque estou doente?

Fico por aqui, pois haverá matéria bastante. Interpelando a teoria platónica, expressa no mito da Caverna, na assunção de que reais são as puras Ideias do Bom, do Verdadeiro e do Belo e o resto - o mundo à volta - apenas sombras e reflexos que impedem que se conheça a realidade, na sua essência, traz então o poeta à nossa reflexão a questão da existência-
Essência e Existência ( o Sein e o Dasein de Heidegger, que Pessoa não leu) colocam esta questão que Caeiro, ora assertivo ora dubitativo  que tentar explicar no seu poema. Centra a discussão no seu EU: mas um eu que se interroga, duvidando de si, dos outros, do mundo, define ele como um eu que está doente.
Da doença da Razão, que nada explica, e ao mesmo tempo explica tudo.
A confusão, neste momento poético de sensacionismo mal vivido por Caeiro, é confundir sensação, ou sentimento, com pensamento.
Não são a mesma coisa... O sentir de que fala, julgando que sente, é a pura expressão do esforço de conhecer, e não o de sentir. Nem ele está certo, nem o mundo é um erro, ainda que coincidente em toda a gente.
Spinoza, que Pessoa leu, falava da res cogitans e da res extensa, a matéria criada.
Essa matéria, mais ainda quando do universo se trate, poderá ser observada, admirada, descrita, digamos "vivida". Mas sobra outra, e é esse lado outro da existência ( o ente que pensa, o pensamento) que absorve e consome o nosso poeta em todas as suas variantes.
Buscará noutras esferas a música eterna de que Platão falava...e muitas vezes se lamentou de nada ter encontrado!

Num verso em que se refere ao que é o presente, "uma coisa relativa ao passado e ao futuro", que existe "em virtude de outras coisas existirem", afirma Caeiro que não quer "incluir o tempo no seu esquema".
Desliza aqui o seu pensamento para um outro tema, que não é inocente, e tem já algo de einsteiniano, na subtil relação de tempo/espaço, ou de matéria /energia.
Falando embora de coisas, com passado e com presente, repete com insistência o verbo "ver", até que o seu leitor, ou o seu estudioso, se apercebam do simbolismo que um tal verbo comporta.
Ver, isto é, ver com a clarividência dos místicos, dos alquimistas de cuja iniciação se dirá no fim que ele, o iniciado, "parte munido de olhos" (Mutus Liber) chegado ao fim do percurso.Vejamos então as coisas:

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.

Estamos perante um exercício de meditação, de contemplação, próprios da mística alquimia - daí a contradição de afirmar que não é ciência nenhuma. Pois não é, e recuperando ainda o Mutus Liber, o que nele se pede ao adepto é que "reze, leia, leia, leia e releia, e trabalhando conseguirá descobrir".
Indicação que no seu estudo da obra de Waite (constante da sua biblioteca pessoal) Pessoa terá encontrado muitas vezes.
Temos pois um Caeiro que não é um pastor sensacionista e inocente, que se limita a olhar, sem as contar, as suas ovelhas -pensamento.
Temos um Pensador que reflecte sobre o sentido, e não a sensação - que é o seu, o exclusivamente seu da sua vida, e  do mundo que o rodeia como se não existisse. Reflecte sobre o ser e o tempo, enquanto prefere omitir essa questão do Ser no Tempo, isto é,  da Existência, do Existir.
A consciência de existir arrasta consigo o sofrimento de se saber passado, efémero, e não perene, como se desejaria...
Mente, mais uma vez, para justificar o célebre verso, quando afirma
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar

De novo recupero um alquimista, Michael Maier, só para terminar:
"  O Vento  transportou-o no seu ventre" referindo-se ao embrião da matéria da vida.
(Emblema I, Atalanta Fugiens)

Recomendo, para leitura simples e agradável além de original, o livro aqui apresentado pelo Prof. David Jackson, que sublinha uma das características mais inovadoras (e Modernistas) de Pessoa: dentro dos limites de um determinado género literário de que se serve para a sua expressão poética, a total inversão , por via do que diz, da definição do género tal como fora entendido até ele o virar do avesso....


Tuesday, July 14, 2015

Rimbaud- Caeiro

O Sensacionismo de que Pessoa/Caeiro, este enquanto suposto Mestre, são os doutrinadores, têm um antepassado: Arthur Rimbaud, que vive até à medula esse conjunto de emoções até ao rebentar da quilha do seu peito contra um mar selvagem, indomável e arrebatador:Ô que ma quille éclate!Ô que j'aille à la mer!
Quem alguma vez leu estes versos de Le Bateau Ivre nunca mais os esquece.
Esse caminhar que é de raiva e afundamento na sensação/excitação da violência mais funda, a da entrega do ser à onda descontrolada, que tudo deseja e tudo quer sentir em fusão e de uma única vez, é algo de irrepetível.
Poderíamos, mas não faria sentido, aproximar a Ode Marítima de Álvaro de Campos deste magnífico poema. A excitação descontrolada, o impulso mais negro e mais profundo estarão presentes em ambos.
Mas não há, nunca houve, por muito que se pretenda o contrário, uma entrega total do nosso Fernando Pessoa, em nenhuma das suas múltiplas vozes, ao descontrolo emotivo, à negra dissolução do ser.
Por cima de uma entrega aparente paira um Eu a que tudo regressa, um Eu que distanciado, racional, mede, ordena, enquanto observa e vive. A sua vivência não é de entrega, e mesmo quando aparenta ser, é mais um exercício de medição e fingimento.
Vai, mas controla o até onde pode ir. Ele conhece o limite....
Já em Rimbaud a entrega é total, seja luminosa, como em Marine, poema alquímico que merece leitura detalhada, e de algum modo reordena o caos de Bateau Ivre, seja mais cruelmente negra, como em tantos outros que se poderia citar.
Mas a minha ideia inicial era ver o que via Caeiro, o Mestre, no momento que Pessoa descreve como de rara e súbita iluminação, fazendo dele o Guia que faltava aos praticantes de um Sensacionismo definido como fundador de toda a nova poesia do verdadeiro Modernismo.
Sentir tudo de todas as maneiras....
O sentido que Caeiro mais valoriza é a visão: ele olha para o rebanho que terá à sua frente e vê nessas ovelhas, que não chega a descrever com detalhe, não o animal que são, mas o seu pensamento.
E o que é o seu pensamento, ou o conjunto, reunido na figuração de um rebanho, dos seus pensamentos?
Nenhuma sensação, apenas a esfera do abstracto raciocínio, a despida nudez da razão em si mesma contida e reflectida.
Direi que há mais sensacionismo em Voyelles, de Rimbaud, no colorido grito de cada um dos sons, do que em qualquer outro poema pessoano que se possa citar.Fiquemos com Rimbaud, por um momento, na belíssima tradução de Augusto de Campos.
Entre o Alfa e o Ómega da criação universal, na multiplicidade de imagens que os sons vão propiciando, com uma variedade e um colorido tão vasto, não haveria lugar para o rebanho de Caeiro, o Mestre, o que da flôr não sabe dizer o nome por simples e humilde que seja, nem definir melhor o seu perfume, ou a côr que o seduz.
Caeiro não é Mestre de sensações, mas de pensamentos que contempla, enquanto lhes procura sentido  (não sensações, mas sentido) e fundamento.
Dir-me-ão: para quê comparar poetas e poemas? Cada um é como é, tem, como teve, o seu caminho próprio..e é verdade.
Apenas me apeteceu de repente lembrar a um público - quem sabe jovem - que houve antecedentes, antes dos presentes que se folheiam nos manuais, Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, tantos e que o poema ou o poeta actual não nasceu do pó do chão, da humidade das relvas (aqui podia entrar Walt Whitman) mas das sementes de todas as vozes anteriores que culminaram na árvore e no fruto que os de agora felizmente podem colher (comer).