Miguel Ângelo Rocha
ANTES E DEPOIS, no CAM
Uma instalação feita de fios, de nós, ora feitos ora desfeitos e que começa no átrio, delicadamente, entra pelo tecto para o interior da sala, que é confortável e onde nos deixam sentar.
Olhamos para cima, para a frente, para o lado, percebemos que aqueles fios que em si mesmos são um verso e reverso moebiano, seguem por uma parede lateral para outros espaços onde um som flutuante os aguarda, resguarda, e a nós, mais atentos, de vez em quando espanta.
Espanto é a palavra certa, roubada a um Aristóteles de Antes, que se mantém ainda hoje, no seu perpétuo Depois.
O título foi riscado pelo artista, que não quer Antes e depois - quer
o eterno verso e reverso do devir.
A outra palavra seria, depois do Espanto, o Devir.
Aqueles fios longos, enrolados ou desenrolados, fluem, como levados por uma onda que nascesse da alma.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2t8eEId66HQi765f1TiEbKoy975ab2M2LoPoeOB4b1y2v7EzBcDr0WUN_3m6PXT1cz96L9yl1Lqw6AIb0IJzAvJRYiGVAwMGvOwd1VsDRILch37o685dtupss4qp2Vhj44JSz0Q/s1600/Blogue-avo%CC%81.jpg)
Contemplemos ainda a delicadeza daquela tecitura de madeira, virada e revirada de modo a que da secreta união pouco ou nada se adivinhe.
Guarda o mistério que foi o do momento em que surgindo a ideia logo tenha surgido o balançar da composição das harmonias sonoras: do nada, do quase nada...
Olha-se, vê-se e ouve-se, na maior discrição.
Uma obra para ser contemplada, e em parte, à medida que o tempo vai passando, o antes e o depois se deixem desvendar.