SABEDORIA
Ainda não acabei de entender
o outro poema, só aparentemente mais fácil
já tenho aqui outro que impõe uma leitura que é
ainda mais difícil, nada é fácil com a poesia
de Nuno Félix da Costa
que carrega sempre uma noção científica e ou
filosófica entre as linhas do poético.
Procuro então entender o poético.
Mas não é fácil o poético, porque também aqui
as linhas dos versos, por não ocultarem mistérios
mas revelarem o normal quotidiano do gesto
ou da situação repetida, conhecida, como o riso,
nos deixa entregues a uma perplexidade inesperada.
Como pode o banal ser poético? Onde me fixo? No título?
Sabedoria?
Um mundo tão abrangente que se torna para um leitor comum
impossível mesmo de entender. Pode saber-se tudo e isso
é Sabedoria? Ou não saber nada e isso sim ser Sabedoria?
Com a enorme gargalhada que fez a criação do mundo, quem ria afinal?
Deus ou o diabo?
E porquê querer saber, se se morre na mesma, sabendo ou não sabendo?
Nada sabemos do que é revelado depois, como não sabíamos do que
não foi revelado antes. Quem tinha rido na hora de chorar?
Faz sentido escrever, como busca de explicação?
Ou é mais sensato não fazer nada, deixar o tempo seguir
o grande devorador do passado e do presente
com todas as palavras possíveis que a seca ironia do riso
nos está a sacudir
a grande roda gigante concebida sem intenção de triturar
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