Depois da filha, a mãe.
A mesma marca, de criatividade que obriga ao pensamento. Numa, pintora, a origem da imagem; noutra, filósofa, a origem da palavra.
O título é sedutor: palavras aladas. Surgem com asas ou é o pensamento fundador que as faz voar, com asas que lhe são colocadas?
São aladas porque fluem entre as duas pessoas que ali se encontram no mesmo espaço, partilhando interrogações e respostas ao modo de uma entrevista-conversa em que parcialmente se afloram questões quase de biografia, não romanceadas mas igualmente sugestivas do que poderia facilmente ser também romanceado no imaginário da pessoa entrevistada. Sempre que falamos alguma coisa vai nas palavras que voam, saídas do ninho, do conforto do nosso pensamento mais secreto e silencioso.
É tão mais fácil o silêncio do que o esforço da palavra: onde está, onde se esconde e é preciso buscá-la.
A entrevistadora tem cultura e preparação para fazer as perguntas, ora da Vida, ora da Obra, um percurso já vasto que podemos acompanhar desde Platão, o preferido, passando por muitos outros criadores, desde os caçadores que desenharam o seu mundo nas cavernas pré-históricas, até aos mais revolucionários modernistas. É vasta a cultura que nesta entrevista nos convoca para a filosofia, sim, mas muito para o pensamento literário e artístico, tanto quanto o musical.
Maria Filomena Molder ao mesmo tempo seduz e intriga. Leu tanto? Leu tudo? A mim não me causa espanto, também eu comecei a ler em criança, também eu me interessei desde cedo pela arte e cultura, e no Liceu devo ter sido a única que leu toda a obra de Platão sem achar que era um aborrecimento, tendo de ler apenas o Fédon.
Adiante vou de novo encontrar em Maria Filomena o meu mais profundo e inspirado criador : Goethe, sobre cujo Fausto alquímico me doutorei.
Afinidades, que me fazem ler Filomena Molder com redobrado prazer que não escondo.
Sou de um tempo em que não havia grandes apoios, mas grandes dúvidas sobre o trabalho de investigação das mulheres que deviam era ter ficado em casa, a tomar conta de marido e filhos. O tempo de Filomena já foi mais favorável, mas isso em nada diminui a sua inteligência, amor da arte e da cultura e a descoberta do enorme prazer da palavra, que recolhia na rede do seu pensamento, se lhe passasse à frente.
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