Monday, April 10, 2006
Fernando Pessoa
Na citação de Eros e Psique parti da leitura e edição feita por Maria Aliete Galhoz, uma das primeiras estudiosas e divulgadoras da obra do poeta.
in FERNANDO PESSOA,OBRA POÉTICA, ed.AGUILAR,Rio de Janeiro, 1972.As notas são neste volume um precioso auxiliar, de que também me servi, para o poema.
Assim, podemos ler que Eros e Psique foi publicado pela primeira vez na revista PRESENÇA, nos. 41-42, em Coimbra, Maio de 1934.
Respondendo a uma pergunta do seu amigo Adolfo Casais Monteiro, diz Pessoa que a citação colocada em epígrafe é tradução do Ritual latino do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, "em dormência", como se diz, desde 1888.
Mas agora acrescento eu : repare-se que a data é a do nascimento do poeta, e que ele foi sempre um "criador" de figuras e factos que servissem o seu propósito, ora artístico, ora filosófico, ora simplesmente provocatório (como fez, segundo ele mesmo confessou, com Gaspar Simões, autor da primeira grande biografia de Pessoa).
Neste caso, é bem possível que o Ritual que cita seja antes o esboço de um sonho: o de recuperar a antiga Ordem do Templo, que D.Dinis, salvando-a da extinção pedida pelo Papa em Bula de 1318, transformará, em 1319 em ORDEM DE CRISTO.
Seja como for,o nosso poeta conhece bem, quer a dimensão iniciática dos símbolos e mitos, quer os processos de Jardinagem da Alma dos alquimistas, quer ainda as pulsões do inconsciente de que Freud se ocupara (também de Freud encontramos livros na sua biblioteca).
Por muita da poesia hermética de Pessoa vemos passar os saberes que a ele o motivaram em especial: o neo-platonismo, o gnosticismo, o rosacrucianismo, a alquimia já citada na sua dimensão psíquica reconhecida, a maçonaria, a par de um ideal nunca abandonado de MESSIANISMO utópico, bebido nas TROVAS do Bandarra e na História do Futuro do Padre António Vieira.
Tive ocasião de citar JOEL SERRÃO a propósito deste messianismo, no meu estudo sobre O PENSAMENTO ESOTÉRICO DE FERNANDO PESSOA, ed, ETC:,1990.
Num dos documentos que transcrevo aí, do Espólio ( 53B-72 a 74 ) escreve Pessoa sobre a DESTRUIÇÃO DO TEMPLO.É um rascunho ainda, mas já nele se notam as suas interpretações e em parte o desejo de ajudar a uma reconstrução-sonho de todo o iniciado.
"A destruição do Templo quer dizer a RUINA dos mistérios e o desastre que foi o derramar pelo mundo e pela humanidade das doutrinas esotéricas, que por natureza não se destinam a ser divulgadas."
E adiante conclui, de algum modo contrariando o que pretende fazer, que" a iniciação nas sociedades secretas é uma mímica deteriorada, uma figuração em plano inferior da iniciação verdadeira.O ceremonial maçónico,por exemplo, como o trabalho alquímico, é SIMBÓLICO; não significa nem mesmo o que os 'iniciados' neste nível supõem que ele significa".
E ainda, para concluir: "O LOGOS pelo qual Deus criou o mundo segundo a doutrina secreta, que é a INTELIGÊNCIA, não é 'aquela' Inteligencia, é a CIENCIA sem Inteligência, o VERBO, isto é, a EXPRESSÃO."
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Bibliografia: F.Pessoa e a Filosofia Hermética, ed Presença, 1985
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