Thursday, April 13, 2006

Beckett centenario



Samuel Beckett o Mestre da arte do silencio.
Falar não é dizer, não é abrir caminho, não é comunicar.
De algum modo, nas suas peças, falar já é morrer, sem que se saiba, ou ainda pior é já estar morto e dar continuidade ao tique mecânico de um palrar abstruso.
Diz-se que ainda não surgiu ninguém igual a ele... É natural.Os Mestres do silencio não fazem discípulos, não espalham uma palavra que desde logo seria contraditória ao ser seguida. Calam, e porque calam, existem mais do que os outros.

Mas não está perdido de todo o teatro do silencio e do protesto (pois o que é o silencio se não uma forma de protesto?). Quem cala sente, não consente, ao contrário do que reza o provérbio.Quando muito, teme.
Harold Pinter é o outro expoente da dramaturgia de lingua inglesa que podemos colocar, com Beckett,no topo da pirâmide dos grandes.
Não que eles se importem com isso, apesar dos Nobel com que foram agraciados.É a sua virtuda que dignifica o prémio.Sem prémio eles seriam na mesma o que são.

EN ATTENDANT GODOT foi uma peça escrita e publicada em francês,em 1952.Teve nos anos seguintes a tradução alemã e a versão inglesa feita pelo próprio Beckett e publicada em 1955.
Ainda hoje se pode ler como a Bíblia dos tempos modernos,um tempo que continua a ser vivido em suspenso, eternamente adiado e adiando o entendimento da condição humana.
Não é por acaso que o primeiro acto termina com um diálogo de Estragon e Vladimir que se repete nos mesmos termos no fim do segundo acto e fim da peça, que desse modo nos fecha no circulo que é a roda da vida que a peça representa. Uma vida que nos anos do após-guerra se revelava baça, sem sentido, ou com a esperança de um sentido ainda por encontrar. Os traumas poderiam ser esquecidos por momentos na agitação das noites do quartier Saint-Germain, mas as feridas custavam a sarar.

"Estragon - Então vamos ?

Vladimir - Vamos embora.

(Não se mexem)

Cai o pano."


Em PLAY deixa-nos com a interrogação final, posta na boca do Homem : "Ao menos sou ...visto ? "
E a peça volta ao princípio, segundo a indicação do autor, e volta o HOMEM a repetir a mesma interrogação: "Ao menos sou visto ? "
É o olhar do outro que nos concede a existencia e a nós a consciencia dela.

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