Monday, April 24, 2006
EMILIA NADAL
O RETRATO-DECOMPOSIÇÃO, óleo de 1974, pertence ainda a uma fase da obra de Emilia Nadal em que a marca de Surrealistas e de Metafísicos como de Chirico, se fazia sentir. Filtrada, é óbvio, pela sensibilidade de uma pintora que não se deixaria aprisionar por completo, nem para sempre, por nenhuma dessas doutrinas ou experiencias, por muito libertadoras que fosssem.
O Retrato-Decomposição já permite, à sua maneira, antever o que se vai seguir.
A cabeça, de brilho lunar contra fundo azul noite, libertou-se da moldura que a devia conter, e flutua num espaço que já perto do tecto a levará para um jardim de que a árvore, também ela translúcida e lunar, já representa.
Bem centrada sobre o azulejo que é um quadrado negro, fazendo a divisão entre os dois outros que estão de cada lado, marcando o centro que é um 5, figuração da vida, quinta-essencia do impulso criador, vemos então, suspensa,uma romã aberta, quase deixando que se contem os bagos, lembrando assim que a figura que se quis decompor se mantém una , se mantém viva, nesse próprio momento em que parece escapar de toda a realidade.
A fuga é uma sublimação, representa " o espírito das coisas " em " súbitas iluminações", como diz Kandinsky - ou neste caso a projecção de um profundo desejo de viver ( a romã ) mas de outra forma, mais livre, e mais feliz, porque perto de uma árvore que é branca, como reza a lenda que era, no Paraiso Terreal recuperado por Eva e por Adão, a verdadeira Árvore da Vida.
Escreve Fernando de Azevedo no catálogo da exposição de 1992, subordinada ao título de FIGURAÇÂO DA LUZ:
" De há anos para cá que a sua pintura me lembra sempre a obra de alguém que seguisse um rasto luminoso no espaço; não meteórico e mecânico como hoje é possível e normal, mas...por uma força que só interiormente se avalia e continua a habitar um espaço desconhecido." E diz ainda, adiante: "Emília Nadal passa pelo Paraíso", referindo-se ao conjunto dos quadros inspirados no Cântico dos Cânticos, onde também encontramos o "Jardim das Romanzeiras".
Recuperando de novo esta tela mais antiga, não posso deixar de concluir que passa pela obra de Emília Nadal um Sopro Feminino,algo que remete para "O Espírito e a Esposa",como se diz no Epílogo do Apocalipse, a dupla face das Árvores da Nova Jerusalém reconstruída.
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