Saturday, December 16, 2006

Genio e Loucura



Para os estudiosos e curiosos da obra múltipla de Fernando Pessoa recomendo a edição em dois tomos dos seus Escritos sobre GÉNIO E LOUCURA, em recolha e transcrição de Jerónimo Pizarro para a edição crítica que tem vindo a ser publicada pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
O trabalho de J. Pizarro merece os maiores elogios. Só quem não visitou outrora a velha arca, ou agora o espólio na B.N. para agrupar núcleos do mesmo ensaio ou dos mesmos temas, julgará que esse trabalho é fácil e directo, estando os documentos prontos a ser trabalhados para publicação; e omito as dificuldades de "ler" os mss.pois nem tudo o que Pessoa escreveu, antes pelo contrário, está dactilografado. A maior parte dos textos foi escrita à mão, em papéis muitas vezes de acaso, do escritório ou do café - enfim, só um grande amor à obra de Pesoa levará,como aconteceu neste caso, um estudioso a preparar mais volumes de uma edição crítica que tem sido morosa mas cujo resultado final é muito de louvar.
O passo seguinte é o de ampliar a discussão em torno destes escritos , tendo em conta as leituras de Pessoa, (a sua biblioteca) os temas então em moda, a herança de filósofos como Nietzsche , médicos e ensaístas que se debruçaram sobre a ligação entre génio e loucura, problemas de degenerescencia ( como os discutidos por Max Nordau, Freud e outros ) não esquecendo os grandes escritores que Pessoa leu e por vezes cita como cultores do fantástico e do maravilhoso que ele mesmo tenta cultivar, desde a sua juventude.
Um dos textos que logo me chamou a atenção foi o fragmento do conto intitulado THE DOOR : pela imediata relação que estabeleci com THE TURN OF THE SCREW, de Henry James, cuja obra consta da biblioteca de Pessoa.Da discussão da natureza da porta surgiria a discussão da natureza do mal, o mesmo podendo dizer-se da célebre porta do CASTELO DE BARBA AZUL.

2 comments:

Paulinho Assunção said...

Eis os tesouros intermináveis.

Yvette Centeno said...

E há mais, haverá sempre mais.
"A História Interminável " de Michael Ende pode aplicar-se à leitura interminável da obra de Pessoa...
Boa leitura, Bom Natal, Bom Ano 2007.