Sunday, December 03, 2006
Domingo de Chuva
Um bom domingo de chuva com uma ópera raramente apresentada na íntegra, DIE FRAU OHNE SCHATTEN, de Strauss,com libretto de Hofmannstahl.Foi a sua sétima ópera e quarta de colaboração com o poeta austríaco, louvado ao tempo como uma das maiores glórias líricas da língua alemã, depois de Goethe. De Strauss talvez não seja a melhor obra, contudo a dimensão simbólica do texto faz dela mesmo assim um objecto de estudo muito valioso. Consideravam-na a sua FLAUTA MÁGICA, o que mostra como a ópera de Mozart deixou marcas perenes na cultura musical e não só. Mistério, jovialidade, esperança e realismo foram os ingredientes que nesta obra também iremos encontrar.
A Mulher sem sombra, oriunda do reino dos espíritos, tem de adquirir esse atributo que é só pertença dos humanos. A sombra é a projecção da sua anima, não a possuir é viver ( ou morrer ) com a falha da incompletude. Assim começa então a aventura desta mulher, casada com um imperador, podendo reinar na terra, mas a quem o pai, ciumento e zangado com a sua escolha, ameaça castigar, petrificando o marido. Maldição grave, pois o homem petrificado é aquele que também não poderá viver completo e de acordo com a sua natureza, neste caso procriar e deixar descendencia. Tudo se resolverá, como na Flauta Mágica, pois esta pretende ser uma ópera moralizante e feliz.
A sugestão que faço é a da direcção de Sir Georg Solti, acessível em dvd da Decca, pois Solti foi dos raros, ou talvez o único que, por respeito à dimensão literária, decidiu apresentar a obra na íntegra, sem os cortes que até ele eram habituais.
Para Strauss o libretto não parecia constituir nenhuma dificuldade: " não são símbolos simples? escreve ele a agradecer a recepção do segundo acto, em 1914;" o imperador que tem de ser transformado em pedra, a mulher que não tem sombra, são tudo coisas que qualquer um pode entender".Trata-se no fundo de um conto de fadas , como o conto da serpente verde de Goethe. O mundo subliminal tem de ascender a uma realidade natural, que dê espaço à vida e ao serviço da humanidade.
O acto III foi escrito durante o período da guerra de 1914-18 e isso intensifica a mensagem do texto - de respeito pela vida humana ou de castigo pela sua recusa.
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