Sieglinda dará à luz Siegfried, por isso a Valquíria desejou salvá-la,mandando agora que conserve os bocados da espada quebrada.Virá a ter depois o seu papel.
Mas isso pouco importa a Wotan, abandonou a raça dos Waelsung e agora só quer castigar a afronta que a desobediencia lhe causou. As irmãs não conseguem protegê-la, Wotan irá expulsá-la para sempre do reino dos imortais, fazendo dela uma simples ( mas muito corajosa ) humana.
De certo modo Brunilda é uma variante, mais complexa, da FREIA do OURO DO RENO. Deusa da natureza, do verdejar da Primavera, figuração da Vida que Wotan já naquele prólogo estava tentado a desrespeitar, fosse qual fosse o custo. Guardou consigo o Anel, símbolo do Poder que desejava e tudo lhe permitiria, como se foi verificando.
A Valquíria é uma guerreira humanizada pela ligação à Terra, de quem nasce, e aos valores humanos que aprende a reconhecer sobrepondo-os a outros , neste caso a ambição de poder.Nascida de ERDA tem a sua substancia: forte, fiel, capaz de FAZER FRENTE ao ambicioso Wotan, seu pai.
No terceiro Acto contrapõe-se a Wotan como seu alter-ego desejável ( mas não exequível...)ao explicar que obedeceu às ordens que ele primeiro tinha dado, e provinham do coração e não de sentimentos menos nobres .
Aí, cumprindo o seu destino, fora filha obediente.
Vê-se em Brunilda a face obscura, dos afectos ignorados, recalcados, de um Wotan abismal e suicida. A sua Vontade de Poder, para além do Bem e do Mal ( ecos da leitura de Schopenhauer e de Nietzsche ) levarão ao Crepúsculo final : morrendo os valorosos heróis caem os deuses, como cairá o mundo, abrindo-se a uma cobardia sem nome, poucos anos depois.
Para a interpretação de Gwyneth Jones, na produção Boulez/Chéreau não tenho palavras que cheguem: terna, ingénua,quase infantil, nas primeiras cenas; e amadurecida pela compaixão, e decidida e grave na aceitação do castigo implorando que só
quem a mereça ultrapasse a barreira de fogo e a conquiste. Será Siegfried.
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