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Ainda não é o RING de Wagner, mas é o igualmente interessante RIND de Escher - qualquer das imagens apontando para o Anel, se fechado em círculo pressupondo a perfeição, Wagner, se aberto em fita que se enrola ou desenrola pressupondo que a perfeição é desejada mas não ainda encontrada,Escher.
A imagem que se esconde é num e noutro a do Andrógino platónico, que se tornará mais explícito na gravura de cima " Laço de União " que une os dois amantes.
E na Valquíria a história de um par (perfeito) de cuja união nascerá o novo herói trágico, Siegfried, o protegido de Bruennhilde, a Valquíria, que pelo seu amor trocará a imortalidade de que poderia gozar no castelo de Wotan.
Logo nas primeiras cenas dos dois primeiros actos toda a informação simbólica é transmitida por Wagner, à boa maneira das obras de iniciação. O par Sieglinde-Siegmund não é mais do que a figuração do andrógino primordial e o seu incesto é um incesto ritual, a marca de origem de todos os heróis míticos.
No amplo salão onde Siegmund se acolhe ergue-se a enorme raiz de um freixo, árvore da Vida de um paraíso terreal, que abrigará a descoberta e a paixão dos amantes.
Siegmund retira a espada que enterrada na árvore lhe fora destinada desde o princípio (uns ecos aqui da Távola Redonda e do Rei Artur ) . E assim como a sua irmã gémea lhe acode, no início, com uma taça (o cálice do Graal, em embrião) ele lhe acudirá a ela, amando-a, com a sua espada (a força ) recuperada. Não fazem falta grandes considerações freudianas que a direcção de Chéreau também teve o bom gosto de não sublinhar, deixando a nossa leitura em aberto.
Mas como dirá Fricka, a mulher de Wotan ( o deus "indecoroso" que teve este gémeos fora do matrimónio ),a traição matrimonial de Sieglinde, que foge do marido com o irmão, terá de ser castigada.
Algum eco do próprio remorso de Wagner, que "roubou" Cosima ao marido ? Pouco importa, o homem passa, o génio musical ficará para sempre, envolto nas brumas dos fantasmas heróicos que criou.
( a continuar )
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