Sim, acrescentei um acento, no Post, que também ele pode voar, mas aqui antes envolve a proposta de leitura.
Para mim não há acordos, mas pode haver e aprecio a criatividade do designer.
O título desta bela antologia é pois Voo rasante, sem acento. E os dois Oo voaram para o alto da capa, onde vibra um V grande vermelho, que nos chama a atenção.
Helena Vieira, que fez a coordenação, oferece-nos uma bela proposta de leitura de poetas contemporâneos, alguns que já li e reconheço, como João Paulo Esteves da Silva, compositor, e que tem buscado na Palavra Oculta da Cabala judaica o sentido profundo, o mistério do Ser.
O seu poema, um ciclo, como se fosse um hino, tem de ser lido lentamente. Com ele chegaremos a essa Árvore plantada no ar, de que falavam os místicos. Deu como título ao poema ( um cântico na verdade) UMA ÁRVORE DO CAMPO (p. 75 e segs.)
Não se trata do campo do nosso Alberto Caeiro, embora Pessoa tivesse também ele a sua árvore plantada no ar e os heterónimos possam ser vistos como ramificações ampliadas de uma busca perpétua. O poema de João Paulo remete para leituras do Antigo Testamento, para o Cântico dos Cânticos, e para a actualização de uma língua que se perdeu, na sua hermética simbólica, e que ele tenta recuperar. Recriou, no poema, a Terra Prometida. O coração de judeu de que nos fala é o coração de um Paul Celan: só ele, na sua poesia ignorada durante tanto tempo, recupera o coração que é "madeixa" imortal, e abre a porta sagrada da Palavra aos outros sobreviventes.
Mas não é este o tom geral da poesia escolhida para esta obra: encontramos uma coloquialidade directa, em muitos dos poemas, expressão do dia -a -dia, com um experimentalismo que me leva a ir buscar à estante dos velhos amigos o volume da PO-EX, ou os caligramas da Ana Hatherly (poeta e pintora), para não falar dos exercícios poéticos ou performativos sempre inovadores do Alberto Pimenta. Podemos ler hoje, como líamos outrora, A IDADE da ESCRITA de A. Hatherly
O que quero dizer é que a poesia é de todas as idades, para todas as idades.
Houve uma Antologia da Poesia Portuguesa de 1940-1977 - estava na hora de nos chegar às mãos uma Antologia recente, com poesia de agora.
E o que é o mundo de agora, para muitos destes poetas?
O da leitura em desassossego, o do trabalho, o das horas que pesam, ou que não contam, e também o dos sentimentos) sim, não há que ter receio de exprimir sentimentos) como descubro, por exemplo, em Pedro S. Martins, a páginas 135, ("és o que ao acordar mais procuro"...) ou nas páginas seguintes de Raquel Nobre Guerra, impetuosa, no ritmo e na memória coloquial e expressiva, sem recusar o "calão" do seu dizer.
Numa altura em que tanto se fala da incultura dos jovens, descobrimos, nestes poetas, uma cultura, clássica ou moderna, remetendo para leituras e reflexões que lhes alimentam a escrita.
Porque o vôo da Palavra é permanente, vem de longes tempos, das tabuínhas assírias (agora destruídas) até à muito mais recente ironia de um Chesterton, citado por Leonardo Gandolfi, na sua ESCALA RICHTER (p.89-90).
Este é um dos poemas que gostaria de citar por inteiro, mas perdoem-me os leitores: comprem o livro e leiam!
Numa altura em que tanto se fala da incultura dos jovens, descobrimos, nestes poetas, uma cultura, clássica ou moderna, remetendo para leituras e reflexões que lhes alimentam a escrita.
Porque o vôo da Palavra é permanente, vem de longes tempos, das tabuínhas assírias (agora destruídas) até à muito mais recente ironia de um Chesterton, citado por Leonardo Gandolfi, na sua ESCALA RICHTER (p.89-90).
Este é um dos poemas que gostaria de citar por inteiro, mas perdoem-me os leitores: comprem o livro e leiam!
E há mais tantos outros...vou lendo, e por aqui andarei de certeza, vamos falando, com tempo.
5 comments:
Estranho, parece-me que voo sempre foi sem ^. Isto sem AO.
Eu aprendi com ^, mas repare eu sou já tão antiga....
, é o acento que fecha neste caso a primeira vogal.
No verbo voar, onde não há acento o "o" é lido como "u".Mas na capa fica lindamnete tal como está.
Irei ver ao dicionário da Maria Amália Vaz de Carvalho (antigo...) como ela escreveu!
Ora bem, tem razão, só encontrei o Cãndido de Figueiredo,
e escreve VOO (VÔ) deixando assim entre parênteses a indicação de leitura...precisava do outro dicionário, que agora não encontro.
Mas veja: para quem diz que a pronúncia não se altera, com o AO, aqui temos um exemplo de como se altera, pois neste dicionário teve de se deixar a indicação de leitura que o simples acento resolvia...
Obrigada pelo comentário
Acabo de ver que este dicionário que tenho aqui é já uma reedição, actualizada....da Bertrand .... fiquemos na ideia de que cada qual faz como quer...e pronto! Ainda me lembro de não aceitarem o meu Y no nome, quando a minha madrinha, francesa, mo deu.
E ainda tenho papéis em que mo põem com I...
Nem discuto, mas sou como o Pessoa, da minha mão nunca sairá o Y !!!
Pois. :-) Eu aprendi sem ^. Enfim, o AO que se dane.
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