A morte recente de Robert Bréchon (1920-2012) despertou na memória dos especialistas de Fernando Pessoa a biografia que Bréchon publicou e se tornou marcante pelo novo olhar que trazia sobre a vida e obra do nosso poeta.
Mas poucos recordaram a sua biografia de Henri Michaux:
HENRI MICHAUX, La Poésie comme destin (éditions aden, 2005) talvez ainda mais marcante para os estudiosos de Michaux, pintor e poeta cuja obra nos desafia ainda hoje, pela sua complexidade, e que Bréchon, que foi seu amigo, acompanha numa viagem de alma páginas adentro nesse seu livro.
Começa por contar como o conheceu, e como diante dele se sentiu primeiro intimidado. E como pouco a pouco uma relação de iguais se foi estabelecendo.
Também eu conheci Henri Michaux : um privilégio que me emocionou profundamente.
Ele dirigia ao tempo (há muito tempo) a revista HERMES e eu já me interessava por matérias ligadas à simbólica hermética e tinha lido, em Paris, alguns dos livros de Michaux.
Escrevi-lhe, pedindo alguma orientação para o meu estudo e para as minhas leituras futuras (estava já a pensar numa futura tese de doutoramento).
Respondeu logo - ah diferença para os portugueses que não respondem nunca! - e recomendou-me um autor que eu não conhecia, tradutor de Jung, fundador da Revista Junguiana de Paris, Etienne Perrot, que ele conhecera e cuja orientação (alquimia junguiana) considerava ser muito mais útil para mim.
Assim fiz, escrevi e depois travei conhecimento com E.Perrot, com quem mantive laços de orientação e trabalho durante muitos anos.
O que desejo salientar é o modo acessível e amável de Henri Michaux: tempos mais tarde, numa das galerias de Paris que expunha obras suas (as célebres Encres) haveríamos os dois de comentar a minha paixão pela alquimia e a ajuda inicial que ele me tinha dado.
Encontro na Biografia de Bréchon, para voltar a ele, muitos detalhes destes, que nos fazem gostar do artista, mas tanto ou mais do homem que foi, e do destino que assumiu como poeta.
Eu acrescentaria também pintor: pintou a alma dos seus poemas, como os poemas pintavam a sua própria alma, a sua energia por vezes descontrolada, mas sempre tão iniciadora (iniciática mesmo) nos segredos da alma: luminosos ou negros, como em certos momentos de abismo que viveu e descreve em obras como Misérable Miracle (1956)
Bréchon fala do destino de Michaux como poeta que ele mesmo foi: era poeta, discreto e falava pouco de si.
Deixo a minha homenagem, eu que o conheci antes que ele conhecesse Pessoa, mas já amando Lisboa, onde vivia.
E sugiro que se traduza para português esta sua obra: não haverá melhor guia para o destino poético de alguém como Michaux.
Bréchon fala do destino de Michaux como poeta que ele mesmo foi: era poeta, discreto e falava pouco de si.
Deixo a minha homenagem, eu que o conheci antes que ele conhecesse Pessoa, mas já amando Lisboa, onde vivia.
E sugiro que se traduza para português esta sua obra: não haverá melhor guia para o destino poético de alguém como Michaux.
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