Thursday, June 07, 2007

Quando o Inverno Chegar



A não perder esta nova produção do teatro São Luiz: inspirada em Thomas Mann, com ecos beckettianos nas marcas do encenador, esta é uma grande produção com texto de José Luiz Peixoto, encenação de Marco Martins e dramaturgia em criação colectiva de Marco Martins, Nuno Lopes, Beatriz Batarda, Dinarte Branco e Gonçalo Waddington - sendo estes igualmente intérpretes. Do texto de Marco Martins no programa retiro os dois suportes da concepção-base : "a inércia e o movimento e a ideia de que pela comunicação artística se pode romper com a nossa própria inércia" sendo essa a única possibilidade de explicar ou de pelo menos tentar explicar a vida. Porque nem tudo é explicável e sobre o inexplicável paira sempre o mistério, perpétua interrogação.
A interpretação é notável, cada um dos actores construindo a personalidade neurótica dos caracteres, de forma a que não se perceba logo a dimensão trágica do seu oculto registo; saliento a performance de Beatriz Batarda, que constrói uma figura frágil, quase etérea naquela paisagem de pulsões inconscientes, mas sabendo que no coração da ingenuidade se escondem a intensa paixão e o intenso dizer da realidade.
Uma palavra para a música original de Pedro Moreira, executada ao vivo por um conjunto de câmara que só é pequeno no tamanho, acompanhando a voz de Carla Simões nos belos versos de Goethe.

De 7 a 30 de Junho.

6 comments:

Lord of Erewhon said...

Valerá a pena? Acho o autor do texto um escritor mediano. Claro que um encenador, se for excelente, pode mesmo assim criar um bom espectáculo.

Yvette Centeno said...

Caro Lord,
Vale a pena.
A encenação, os actores, os cenários, a música, transfiguram e amenizam o que possa haver de mediano no texto: sobretudo, se leu a crítica de hoje no Público, o facto de se querer explicar à pressa, no fim, o que não devia ter explicação, não perturbando com pseudo-realismo, o mistério real da condição humana.

Sérgio A. Correia said...

Sra Doutora, tudo bem?:)Já há muito tempo que leio os seus blogues, os seus romances e peças de teatro tendo sido, juntamente com o prof Eduardo Prado Coelho, a professora que mais me marcou na faculdade...Com certeza que ´já não se deve lembrar de mim, apesar das visitas esporádicas ao seu gabinete, assim como encontros em conferências suas no Funchal...Sou o Sérgio, o funchalense gago da turma do Rui Zink:)Um beijinho para si.

Yvette Centeno said...
This comment has been removed by the author.
Mié said...

Ler crítica? Críticos? Bahh

E fala, enaltecendo as minorias?

As minorias não lêem as criticas de pseudo-intelectuais, e a colam pele e às ideias, como se fosse a sua visão das coisas, esses, nunca ficarão a ter uma ideia subjectiva em relação a nada.
Fazem-na individualmente, e é isso que faz a diferença, é ter crítica pessoal, é ter ideias próprias é ter personalidade.

Com todo o respeito, esta é a minha opinião.

Fique bem.

frosado said...

Fui à estreia e gostei da peça. Concordo em absoluto com esta análise, quanto ao texto, achei-o, por vezes, demasiado denso e emaranhado, mas as interpretações são muito boas.