Sunday, May 14, 2006

Homenagem a Basho I



Adoeço na viagem
meus sonhos vagueiam já
nesses campos secos.
(B.)

UMA RÃ QUE SALTA foi o título dado a uma pequena antologia de poemas de Bashô e de poemas inspirados por ele, em 1995, na ed.Limiar do Porto, iniciativa de um poeta nortenho, Egito Gonçalves, que também colaborou na edição.Ei-lo aqui em diálogo com Bashô:

Uma rã mergulha.
Um velho tanque.
Ruído de água
(B.)

No som
do poema
outra rã mergulha.
(E.G.)

Stephen Reckert escreve sobre BASHÔ E A ARTE DO INACABADO:
"A poesia mais célebre da língua japonesa é um haiku do mestre supremo desse género supremamente condensado, Matsuo Munefusa (1644-94)- Bashô de seu nome poético.

O velho charco...
som da água
onde a rã mergulha

"Não raro o próprio haiku faz ondas concêntricas no subconsciente do leitor. ..O inesperado mergulho da rã ensina que além de superfície o charco é também profundidade.
Em quase todas as línguas existem micropoemas- seguidillas e solares andaluzas, quadras portuguesas, robaiyat persas, ...mas o laboratório em que a micropoesia tem sido submetida ao longo dos últimos treze séculos ao mais aturado e contínuo estudo e cultivo é o Japão.
A preferencia por estrofes de três ou cinco unidades reflecte a aversão pela simetria e a regularidade ( consideradas óbvias e pouco subtis ) sendo reconhecida como uma das bases permanentes da estética japonesa, diferenciando-a da chinesa" (S.R.)

Um monge do séc.XIII, KENKO, justifica o elegante desprezo dos japoneses pela regularidade e a simetria como a outra face da estima pelo fragmentário e o inacabado, observando:" deixar qualquer coisa incompleta dá a entender que há espaço para crescimento".
Esta é uma lição que serve românticos tanto quanto modernistas ou surrealistas, pois deixa a porta aberta à imaginação de quem cria, é certo, mas igualmente de quem se "deixa criar ou recriar ao ler,ver ou ouvir o poema assim oferecido.

Este pequeno livro, só no tamanho, ficou a dever-se ao amor de Casimiro de Brito e Stephen Reckert pela poesia da Ásia Oriental; as ilustrações deste e dos posts seguintes são as caligrafias de YUKIE KITO dos poemas de Bashô.
Foi uma iniciativa do PEN Clube Português, a que se podia ter seguido a versão inglesa dos poetas incluídos, pois numa época de imperialismo linguísitico de que não se escapará o que não for traduzido não será divulgado como seria desejado por parte dos poetas.
É certo que cultivam a FORMA ABERTA, mas tal não implica que não desejem ser lidos, mais do que simplesmemte conhecidos.
Deixo aqui em homenagem o meu contributo para esta belíssima arte:
No velho portão da alma:
o ferrolho bem fechado
(2013)

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