Thursday, March 20, 2025

 A OBEDIENTE

Era obediente.

Diziam são horas vamos deitar.

E ela levantava-se da cadeira

onde estava sentada e ia para a cama.

Quando a sua Cuidadora

na cama ao lado dormia a sono solto

 ela saía do quarto

e descalça começava os seus longos

passeios pela casa, antiga,

de muitos corredores

que davam seguimento

à casa, aos quartos, às varandas

e a deixavam a ela finalmente respirar

sem que ninguém fosse atrás.

Parava na cozinha, comia qualquer coisa

e hesitava em ficar mais um pouco

já sem fome ou voltar. Não adormecia

antes das seis da manhã

esse horário por qualquer razão

era agora a rotina. Seria por ela ter nascido

muito perto dessa hora? Não sabia dizer

e depressa esquecia o que estava a pensar.

Dava mais umas voltas, procurava a chave de casa

 com que a tinham fechado, não fosse para a rua

 perder-se, cair ou magoar-se, voltava para a cama,

a Cuidadora dormindo sem acordar.

Ainda pensava: julgam que não encontro a chave

mas encontro, um dia abrirei esta porta fechada

irei pela rua fora, irei pela rua fora até onde o caminho

me levar.

19 de Março, 2025

 

 

1 comment:

mceupc said...

Antevisāo de cenários possíveis em determinada fase da Vida de cada um (a) de nós.
A Poeta mostra-se compassiva perante a Cuidadora , que continua no sono. E na deambulaçāo pela casa, com certa liberdade, satisfaz algumas necessidades...
Boa Saúde e Serenidade!
Afectuoso Abraço
MCéu