A OBEDIENTE
Era obediente.
Diziam são horas vamos deitar.
E ela levantava-se da cadeira
onde estava sentada e ia para a cama.
Quando a sua Cuidadora
na cama ao lado dormia a sono solto
ela saía do quarto
e descalça começava os seus longos
passeios pela casa, antiga,
de muitos corredores
que davam seguimento
à casa, aos quartos, às varandas
e a deixavam a ela finalmente respirar
sem que ninguém fosse atrás.
Parava na cozinha, comia qualquer coisa
e hesitava em ficar mais um pouco
já sem fome ou voltar. Não adormecia
antes das seis da manhã
esse horário por qualquer razão
era agora a rotina. Seria por ela ter nascido
muito perto dessa hora? Não sabia dizer
e depressa esquecia o que estava a pensar.
Dava mais umas voltas, procurava a chave de casa
com que a tinham fechado, não fosse para a rua
perder-se, cair ou magoar-se, voltava para a cama,
a Cuidadora dormindo sem acordar.
Ainda pensava: julgam que não encontro a chave
mas encontro, um dia abrirei esta porta fechada
irei pela rua fora, irei pela rua fora até onde o caminho
me levar.
19 de Março, 2025
1 comment:
Antevisāo de cenários possíveis em determinada fase da Vida de cada um (a) de nós.
A Poeta mostra-se compassiva perante a Cuidadora , que continua no sono. E na deambulaçāo pela casa, com certa liberdade, satisfaz algumas necessidades...
Boa Saúde e Serenidade!
Afectuoso Abraço
MCéu
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