Friday, March 01, 2024

 CARLOS NO ATELIER

(para Carlos Nogueira, amizade, admiração)

 

Caminhar à beira-rio

já é parte dessa busca

que o fecha no atelier

Fernando Pessoa dizia

sempre inquieto com perguntas

o que é ser rio e correr

o que é estar eu a ver?

Sabia o que era esse rio

que corria para o mar

mas de si nada sabia

tinha de perguntar.

Carlos também pergunta

no atelier tem respostas

que podem ser mais perguntas

e o levam a procurar...

junta coisas

junta pedras

desenha no chão

mais espaços

podem ser quartos da infância

brinquedos que se partiram

e ele agora recupera

num moderno imaginário

de que faz parte a pintura

geometrias da alma

num papel ou numa tela

letras de brincadeira

projectos de perfeição

rabiscos de vida inteira

o que se esconde afinal

nesta casa que é segunda

um atelier de magias

onde ele se fecha consigo

faz e desfaz à vontade

o que é de si e de um outro

não perguntem que ele não diz

às vezes nascem de um rio

essas formas que ele inventa

ou de um céu cheio de nuvens

ou de um papel sujo no chão

na alma não há desperdício

todo o sinal tem sentido

merece a sua atenção

Carlos é criador

não é poeta perdido

como Pessoa no rio

pinta a interrogação...

 

YKC, Lisboa 1 de Março, 2024

 

  

 


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