CARLOS NO ATELIER
(para Carlos Nogueira, amizade, admiração)
Caminhar à beira-rio
já é parte dessa busca
que o fecha no atelier
Fernando Pessoa dizia
sempre inquieto com perguntas
o que é ser rio e correr
o que é estar eu a ver?
Sabia o que era esse rio
que corria para o mar
mas de si nada sabia
tinha de perguntar.
Carlos também pergunta
no atelier tem respostas
que podem ser mais perguntas
e o levam a procurar...
junta coisas
junta pedras
desenha no chão
mais espaços
podem ser quartos da infância
brinquedos que se partiram
e ele agora recupera
num moderno imaginário
de que faz parte a pintura
geometrias da alma
num papel ou numa tela
letras de brincadeira
projectos de perfeição
rabiscos de vida inteira
o que se esconde afinal
nesta casa que é segunda
um atelier de magias
onde ele se fecha consigo
faz e desfaz à vontade
o que é de si e de um outro
não perguntem que ele não diz
às vezes nascem de um rio
essas formas que ele inventa
ou de um céu cheio de nuvens
ou de um papel sujo no chão
na alma não há desperdício
todo o sinal tem sentido
merece a sua atenção
Carlos é criador
não é poeta perdido
como Pessoa no rio
pinta a interrogação...
YKC, Lisboa 1 de Março, 2024
No comments:
Post a Comment