A DÔR e a MÃO
Inspiro-me em Ionesco,
não que esteja a morrer
como o seu Rei
que a literatura
ou seria a música?
aliviava um pouco
e agora, pensando nele,
ouvindo música barroca
em velhos instrumentos
sinto que a mim
entre os vários tratamentos
a música me alivia.
Dores não de corpo e alma
mas apenas de corpo
mão estupidamente partida
numa queda distraída
mas que foi operada,
engessada
desengessada
e agora continua a doer,
malvada, sem ter em conta
que chegou a Primavera
e era hora de eu voltar
a escrever
mas quando a mão me dói
dói também o pensamentoMaldita Primavera
semana de tanta festa
e glorificação
e é a mim
que me julgava feliz
pois saiu mais um livro
que me dói tanto a mão...
O Rei morre?
Mas eu não quero ainda
o corpo dói
mas a alma vive
e na música
eterno pensamento
sinto o meu prolongamento
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