Um disco em tons de azul, o da luminosa água que também inspirou Manuel de Barros, o poeta brasileiro a quem Luís Tinoco foi buscar o título desta sua recente peça musical, leva-nos por caminhos poéticos inesperados, sem que ao mesmo tempo se perca o sempre presente envolvimento musical, com promessa de uma água que por ali ondula, se agita ou se acalma, conforme a inclinação no esboço da partitura.
Vemos o compositor, como um Pessoa moderno, fixando a água: ( a interpelação de um Tejo que lhe lança a eterna dúvida do que ele pode ou não ser...) água secreta e ao mesmo tempo manifesta, de onde a vida nasce, e com ela a primeira das vozes, a dos regatos, que será por vezes de um azul mais leve, deslizante, lírico, mas mas muito mais vezes, formando-se em cascata, ou correndo, apressada, para o mar . O mar não chega a ser violento, mas não perde o som ameaçador de alguma súbita onda, que vem de longe (de que fundos obscuros) e demora um tempo - o tempo incerto - até que no painel que quase vemos pintado, o compositor nos tranquiliza retomando o suave deslizar da água (esta sim, azul) entre pedras tão lisas como calmaria de há muito desejada. O disco tem mais três peças, Cello Concerto; Frisland; e Before Spring, a Tribute to the "Rite".
Esperando que o Luís Tinoco perdoe o meu atrevimento, em breve falarei desta última.
Stravinsky ficaria feliz, Béjart, que o coreografou numa alucinante celebração dos corpos e do nascer da vida também encontraria na vertigem desta peça de Tinoco matéria de inspiração.
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