Difícil é parar de ler estes poemas.
Circulam no ondear da capa, que Alberto Pimenta concebeu para o seu ilustrador. Rodam, na roda da vida, do seu falar a meia voz.
Reli este, poderia ser outro, para colocar aqui.
Ele diz não chega, Neste título (p.79) e não chega mesmo, porque todos precisamos de mais, de muito mais, pela sua mão, pelo seu génio, que o transporta e o traz até nós.
Humildes, lemos. Numa altura da vida em que outros se atabalhoam na corrida ao sucesso, eis este poeta aqui perto de nós, falando.
É imperioso escutar.
NÃO CHEGA
Nuvens espessas,
parecem pesadas como chumbo.
O vento empurra-as
para cá.
Haverá
quem ainda saiba
e possa desviá-las?
E queira?
- Mas tu próprio queres?
O querer
foi a primeira coisa
a esmorecer em mim.
-Então
por que escreves?
Não adianta.
-Não adianta o quê?
-Não adianta
tentar perceber.
....
Pelo meio o poeta fractura o caminho, filosofante, da interrogação, do tentar perceber.
"o querer que esmoreceu" nele é o mesmo antigo impulso, de uma energia tão especial, que tínhamos outrora e com o tempo se foi perdendo, como se foi perdendo de alguma forma no país, no momento que vivemos.
E o poeta então decide brincar connosco: é uma questão de ritmo, melhor dizendo de arritimia, conta os "arithmos" (p.80) o pulsar de tantas inquietações: das que fazem viver e das que fazem morrer...numa mesma paixão, a de ser, viver, intensamente escrever. Escrever é resistir.
Por ser tão longo o meu convívio com os poemas de Alberto Pimenta sem nunca ter a pretensão de os poder analisar, fazer a recensão crítica dos sábios, logo ao primeiro verso, e entre os versos, me identifico e revivo o que ele esteja vivendo. Serei boa leitora, porque tão fiel, serei sem dúvida uma péssima crítica: não procuro no que escreve o requintado estilo, vou directa ao pulsar de um coração que ali está a bater, vou procurar a voz que fala baixo, e quando fôr preciso também gritará, as dores múltiplas nossas, e do mundo.
O desvio que se segue, ao puxar para o verso o um, a unidade, e o dois, que também pode ser um ou não ser nada - pois o poema agora já segue a duas vozes, vem confirmar que a matemática só por si não chega, e fica justificado, com ironia, o título dado ao poema.
Poetas não são contabilistas, e os números da alma não se contam somando ou diminuindo, todo o contar restringe, assim esmorece o "querer", o impulso inicial, a alma do poeta exige ampliação...um ar que ainda se respire livremente.
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