Friday, April 17, 2015


Miguel Ângelo Rocha
ANTES E DEPOIS, no CAM
Uma instalação feita de fios, de nós, ora feitos ora desfeitos e que começa no átrio, delicadamente,  entra pelo tecto para o interior da sala, que é confortável e onde nos deixam sentar.
Olhamos para cima, para a frente, para o lado, percebemos que aqueles fios que em si mesmos são um verso e reverso moebiano, seguem por uma parede lateral para outros espaços onde um som flutuante os aguarda, resguarda, e a nós, mais atentos, de vez em quando espanta.
Espanto é a palavra certa, roubada a um Aristóteles de Antes, que se mantém ainda hoje, no seu perpétuo Depois.
O título foi riscado pelo artista, que não quer Antes e depois - quer
o eterno verso e reverso do devir.
A outra palavra seria, depois do Espanto, o Devir.
Aqueles fios longos, enrolados ou desenrolados, fluem, como levados por uma onda que nascesse da alma.
Estamos perante uma obra que assim quase indefesa, de tão suspensa, nos aponta a suspensão e o devir do Tempo, o que faz e desfaz todos os nós, o que ata e desata todos os fios, o Tempo com a bocarra imensa que devora os seus filhos, de antes e depois, de outrora como agora.
Contemplemos ainda a delicadeza daquela tecitura de madeira, virada e revirada de modo a que da secreta união pouco ou nada se adivinhe.
Guarda o mistério que foi o do momento em que surgindo a ideia logo tenha surgido o balançar da composição das harmonias sonoras: do nada, do quase nada...
Olha-se, vê-se e ouve-se, na maior discrição.
Uma obra para ser contemplada, e em parte, à medida que o tempo vai passando, o antes e o depois se deixem desvendar.

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