CENTENÁRIO DE PESSOA
Pessoa não tem idade
não celebrem centenários
não o levem para espaços
que ele nunca desejou fechados.
Os eléctricos das ruas,
os regatos sobre as pedras
que corriam para os rios
o Tejo correndo longe
mas que ele via da janela
os cafés das invenções
com os amigos boémios
das multiplicações
que nele nunca acabavam
é tão grande a sua lista
quem não o tivesse lido
nunca perceberia
por trás do que ia dizendo
os desejos que escondia...
a luz que o iluminasse
lhe desse a sabedoria
que os antigos concediam
e ele tanto procurava.
Estava guardada nos livros
e nos papéis de uma Arca
que nunca mostrara a ninguém
e onde ninguém mexia.
Ler o que ele tinha lido
só assim perceberiam
o que tinha na cabeça
de noite se adormecia
e o mesmo durante o dia
quando parecia brincar
com as modernas teorias
que ajudavam a sonhar
um mundo tão diferente
um mundo que o criador
não desejara criar
mas nascera mesmo assim
já corrompido à nascença
e era preciso mudar...
Pessoa de mil mudanças
discussões e assombramentos
não celebrem centenários
não o enterrem mil vezes
que o impedem de pensar
um único pensamento
dos que ele tem à sua frente
e é preciso desdobrar...
um dois que afinal é três
um três que afinal é quatro
para voltar ao princípio
do Um nunca revelado.
3 de Fevereiro, 2025
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