O poema forma-se, diz ele, como "um veio" (p.6) "no meio/ da fractura/ avulsa/ d'escritura avulsa".
Os poetas sabem que sem fractura não haverá poema, sem dôr não haverá a exaltação final tão desejada. Há um veio no mandala da capa, que é já um sinal. Dentro estarão os verso que o preenchem.
Adiante de novo um apelo ao Mestre: "Mestre, mestre / esta máquina pós-moderna/ceifa os doze indomáveis na hora/ primeira, o homem da montanha/ na hora terceira.Fende o dique/ para que o dia anoiteça em óleo/ e lama: a lama dúbia da noite".
Dos pesadelos da noite surge a escrita do dia, o verbo que se faz livro, "árvore de cordel" (p.9). Em tudo Paulo sente a fragilidade, do que começa ou do que acaba: "Eu sozinho, mestre, perplexo/ ante a ciência que me deste/do compasso, pétala e agulha". (p.13).
A conclusão devagar se vai afirmando, como os versos anteriores, discretos, deixavam suspeitar:"Nada resta/senão a feroz inteligência da cobra/ em todos expulsar do seu rastro" (p.19). No poema da página 20, bem como no último com que se fecha o livro, há uma reminiscência da infância (a inocência) perdida e a descoberta de um "nome novo". Nome novo que poderá ser de um homem novo, sem "idolatria nem religião."
Na fresca escuridão, uno.
Foi preciso descobrir e despojar-se, de todas as grandes e pequenas coisas, para atingir este momento em que liberto afirma: "E aqui eu pude, por fim descalçar-me".
Despido e entregue, como Job, tem por fim o poema, o verso libertador, do Uno e do Todo da Tábua de Esmeralda, que não cita, mas reconhece e resguarda.
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