Espero, na sua tradução, o que já encontrei no 1º volume: fidelidade, e abundância de notas, fundamentadas com a sua perspectiva de habitual erudição.
Passo das factologias de Zink, crítica feroz das elaborações falaciosas dos políticos e dos media do século XXI, para as raízes fundadoras de um novo pensamento, também ele aparecendo ou parecendo lidar com novos factos, no século II da nossa era. Contudo se os recentes são factos com que se pretende aceder ao poder ou mantê-lo, a todo o custo, os antigos não têm a ver com tal intenção, antes distinguem claramente o que é de César e o que é de Deus.
Como alguém dizia, num programa que acompanho do canal i24, israelita, é com João Baptista que se dá a transição religiosa e cultural para um cristianismo anunciado. A marca é a do baptismo na água, em que se morre (como Cristo há-de morrer) ao ser mergulhado nas águas do rio Jordão, e se ressuscita (como se anuncia que Cristo há-de ressuscitar). Morte e Ressurreição, prenúncio de uma mudança radical de vivência religiosa.
Mas também essa vivência precisou de alinhar factos, para que fosse divulgada.
Na tradução de Frederico, como já é seu hábito, as notas são preciosas para ajudar à nossa reflexão.
Em pequena, no colégio de freiras que frequentava em Buenos Aires, ouvia dizer que Judas, recebidos os seus trinta dinheiros, tendo sabido da morte de Jesus, fugiu para longe e enforcou-se, arrependido da sua traição, num ramo de figueira. Figueira que assim ficou conotada com o pecado de Judas, uma espécie de árvore de maldição.
E eu que já de regresso a Portugal, mais velha, sempre de férias no Algarve, gostava tanto de figos, e tinha um tio que até figos de piteira costumava comer.
Mas leio agora, nos Actos dos Apóstolos, que a morte de Judas é apresentada de outro modo pelo narrador, Lucas, com as palavras de Pedro:
"...Foi preciso que se cumprisse a Escritura que o espírito santo predisse através da boca de David acerca de Judas, que se tornou guia dos que prenderam Jesus; pois ele fazia parte do nosso número e recebeu uma parte deste ministério. Este obteve um terreno a partir de uma recompensa da injustiça e, tendo caído de cabeça para baixo, rebentou pelo meio e derramaram-se todas as suas vísceras. Isto tornou-se conhecido a todos os habitantes de Jerusalém, a ponto de aquele terreno ter sido chamado, no dialecto deles, ..."campo de sangue"(F.L. Actos, p. 51).
E é citado o livro de Salmos, em que se indica que "Tome outro a sua supervisão". Assim surge a escolha de Matias para substituir Judas no meio dos apóstolos. Mas a descrição da morte de Judas é tão directa, tão fria e arrepiante, que fica na memória. Não há referência a algum arrependimento mas apenas a castigo, profetizado.
Aqui temos um ponto de reflexão: profecia e verdade, facto ou lenda, razão de mudança, nos termos e nos comportamentos. Porque, como se afirma de seguida, " é necessário que dentre os homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu do nosso meio, começando desde o baptismo de João até ao dia em que foi levantado ao alto de junto de nós, um deles se torne connosco testemunha da ressurreição" (p. 51).
Assim começa a notável mudança, de propagação pelo mundo de uma outra verdade, contada por pessoas que agora confirmam a Boa Nova, e a divulgam como testemunhada ao vivo e na sua presença.
A leitura dos Actos é fascinante, para leigos e crentes.
1 comment:
Olá.
Passo para deixar o meu abraço e meus votos de uma excelente semana, com muita paz.
Um abraço.
Pedro.
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