Friday, April 10, 2009

Pessoa Hermético


É hoje mais fácil do que outrora, no meu tempo, quando no início da década de setenta me interessei pela influência hermética na produção poética de Fernando Pessoa, aprofundar tais estudos. 
A marca era visível, explícita, em certos poemas, mas até ser possível estudar os livros da sua biblioteca particular, na casa da meia-irmã Dona Henriqueta Rosa Dias e passar a pente fino os milhares de documentos preservados na célebre arca, eram mal aceites as argumentações a que, dizia-se, "faltava suporte". 
Com estudo e paciência, e devido à amável disponibilidade de Dona Henriqueta, que sempre recebeu com grande gentileza quem a procurava, chegou finalmente o momento de provar que Fernando Pessoa fora um bom conhecedor da chamada filosofia hermética, tanto quanto do Rosicrucismo e da Maçonaria, mais do Rito Escossez Rectificado (de estrutura simbólica alquímica) até do que do Grande Oriente propriamente dito.
Os livros da sua biblioteca eram prova disso, sobretudo os dos Mestres Arthur Edward Waite, Hargrave Jennings e Oswald Wirth.
E acima de tudo os célebres papéis da Arca, dispersos, que era preciso ir lendo um a um e reunir para que fizessem um todo, ainda que parcial, fragmentário, mas com sentido próprio e inteligível. 
Comecei por publicar um pequeno ensaio sobre o poema CHUVA OBLÍQUA: nele, para além do experimentalismo modernista, que é marca pessoana, se pode descobrir uma estrutura de cariz alquímico e simbólico, que lhe confere uma singularidade especial. Aí se encontram, em pares de opostos, os elementos terra-água, sombra-luz, consciência-inconsciente (presente-passado) a par de um exercício mental de recuperação de uma infância perdida e de imagens de sublimação como o círculo da bola redonda que escorrega pela costas abaixo da criança que brinca.
Haverá que ler o poema todo, é óbvio, e integrá-lo no contexto adequado.
Eu deixo apenas a citação de uma carta que o poeta escreve a Adolfo Casais Monteiro, em 14 de Janeiro de 1935:
"Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm".
Sobre o caminho alquímico muito haveria a dizer, havendo em Portugal, como nos outros países da Europa, desde a Idade Média, conhecimento dos principais tratados, árabes e latinos, que circulavam de mão em mão.
No caso de Pessoa as leituras certas foram as que indiquei acima e  sobretudo a seguinte obra, de extrema importância: 
G.R.S.Mead, THRICE-GREATEST HERMES, Studies in Hellenistic Theosophy and Gnosis, London and Benares, The Theosophical Publishing Society, 1906.
Aqui fica a indicação, para quem deseje iniciar-se. Não haverá outra forma, além do estudo, em biblioteca onde se escondem as fontes...

11 comments:

Anonymous said...
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Anonymous said...
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Nehashim said...

“Antes que a Alma possa ouvir, a imagem (homem) tem de se tornar tão surda aos rugidos como aos murmúrios, aos bramidos dos enfurecidos elefantes como ao argênteo zumbir do pirilampo de ouro.”

H.P.B

Muitos parabéns pelo seu Blog, demonstra possuir um vastíssimo conhecimento sobre várias áreas. Sem dúvida que as suas palavras enriquecem o intelecto de qualquer um. Obrigado pelo maná que nos oferece.
Cá voltarei.

Francisco Pigrizya said...

A partir da próxima terça feira dia 19/05/2009, o Quase Calado,http://quasecalado.blogspot.com/ estará publicando uma série composta por 10 episódios intitulada de "João em vida", escrita em parceria entre eu, Francisco Pigrizya e o também jovem aspirante a escritor N. Reverie. A idéia constitui um esforço por uma forma de construção textual onde a história é criada por mais de um autor, da forma mais independente possível, sem a interferência de um autor na seqüência imaginada pelo outro, abrindo assim a possibilidade de uma leitura no mínimo curiosa. Não temos a mínima idéia se a idéia de construir textos dessa forma é nova, mas a proposta é essa.
Desde já agradeço pela atenção e conto com a ajuda de vocês para podermos levar adiante a idéia, pois o combustível do escritor, além da inspiração besta que vem a qualquer tempo, ninguém sabe quando ou onde, é também saber que alguém o lê e pensa sobre o que ele escreveu.
ABRAÇOS!

Yvette Centeno said...

Essa experiência é como a do cadavre-exquis dos surrealistas, mas nada impede que se repita, os tempos mudam, com eles as experiências, as sensações, as emoções, as linguagens, os estilos. Boa inspiração e força!

Cristina Fernandes said...

Gostei de passar por este seu espaço...
Parabéns.
Cristina Fernandes

eleusis said...

Boa tarde,

Trabalho para a Videoteca Municipal de Lisboa e gostaria muito de lhe enviar o projecto Hino a pã - O último sortilégio para que pudesse apreciar e quem sabe se lhe interessar eventualmente participar.
Se fosse possivel facilitar-me o seu e-mail ou outro contacto que achar mais conveniente enviarei o dossier de apresentação.
cumprimentos
Fátima Rocha

Yvette Centeno said...

aqui vai:
yvettecenteno@gmail.com
um abraço

teemazul said...

Professora,

Será possível contactá-la?

Sou doutoranda, na Faculdade de Letras de Lisboa, e estou a efectuar um estudo de caso sobre uma obra de Vieira da Silva.

Deixo-lhe o meu email, caso considere possível encontrá-la:
teresaquirino@gmail.com

C/ Amizade

Teresa

Yvette Centeno said...
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Yvette Centeno said...

teemazul,
claro que sim, tem o meu e-mail acima