Com o título de DIE ZEICHNUNG UEBERLEBT , O Desenho Sobrevive, publicou Maike Bruhns uma obra com os testemunhos de presos do campo de concentração de Neuengamme ( Ed. Temmen, 2007 ).
São presos oriundos de vários paises: Dinamarca, Alemanha, França, Holanda, Noruega, União Soviética, Hungria, todos têm em comum o serem ou judeus, ou ciganos, ou comunistas ou simplesmente resistentes activos contra o nazismo e sua ideologia perniciosa, que não desejaríamos ver reproduzida sob nenhuma outra forma, manifesta ou oculta.
Aquele que, por se sentir todo poderoso ( ilusão que os tempos, a prazo, se encarregam de destruir ) se permite ofender, perseguir até à violação dos mais íntimos direitos e preceitos da dignidade humana, da relação com o outro, merece que o denunciem.
Estes presos, que tinham o dom de saber desenhar cumpriram esse dever da denúncia, no desejo de que a memória perpetuada não voltasse a permitir tal horror.
Encontram-se nesta obra exemplos comovedores, pela capacidade de resistência (marca do homem profundo).
Mas chegou a hora de apontar para as imagens que agora e repetidamente as televisões de várias partes do mundo nos dão a conhecer: as crianças morrendo à fome no Sudão são uma parte do que o Ocidente está a permitir, em muitos pontos da África sofredora. Como permitiu, durante um tempo, que se morresse nos campos de concentração.
Nós, entre nós, discutimos neste momento a fome em Portugal: está nas cinturas de Lisboa, ou mesmo no seu coração. Está fora dela, no chamado Portugal interior.
Que mão irá desenhar esses rostos, esses corpos, esses olhos que já não olham de frente?
Não tanto para compaixão como para alerta? E só agora se deu por isso?
Os novos campos terão outro nome, mas serão à mesma campos de abandono e sofrimento inenarráveis.
Na imagem vemos um preso doente a ser obrigado a mostrar aos guardas se ainda tinha diarreia. Se tivesse voltava mais um dia à barraca hospitalar; de qualquer modo, passado esse dia, estivesse melhor ou pior voltava ao trabalho ou era gazeado, se demasiado fraco.
Nós que fazemos com os fracos ? Que país é este?
E que Europa é esta, já que dizemos que é tudo culpa da Europa?