Friday, June 20, 2014

Cristina Carvalho, Quatro Cantos do Mundo
ed. Planeta, 2014

Este recente livro de Cristina Carvalho, pelo título e em especial pelos Viajantes que evoca, em dedicatória, Roald Amundsen, o caminhante dos Pólos, David Livingston, o do deserto do Kalahari (e a célebre frase recuperada em filmes célebres: Dr. Livingstone I suppose? ), David Attenborough que me acompanhou a mim e já também à infância dos meus filhos, e ainda, last but not least, Jacques-Yves Cousteau, da exploração submarina, que o seu filho agora continua - dizia eu que este livro de Cristina, mal o abri, me remeteu para a minha própria infância/adolescência, no Porto, com o meu pai a dar-me a ler os livros de Rómulo de Carvalho, enquanto no colégio líamos Júlio Dinis. Com o meu pai foi sempre de História ( a grande) e a Ciência, e ao mesmo tempo os livros de banda desenhada daquele tempo, que se compravam nos quiosques: o Superhomem, a família Marvel, etc. Leituras de café para me entreter e ele poder falar à vontade com os amigos.
O que quero dizer? Que o ambiente de família, o pai com quem se fala, ou a mãe, mas este pai de Cristina era o Professor- cientista (mais tarde conheci toda a sua poesia, afinal era ainda poeta, com nome de António Gedeão) nesta família o que se viu, o que se leu, rasgou horizontes e paixões que perduram.
Neste caso, a aventura e a escrita. Da viagem da escrita, pelas palavras dentro...
Uma escrita de rigor, sobre a qual se pode fantasiar, criar e recriar mundos, que por serem mágicos mas verosímeis ( no bom sentido da definição de Aristóteles) se transformam em fonte de saber e de prazer.
Leio e cada página me empurra para a outra...São quatro histórias, cada qual no seu espaço/tempo peculiar, que Manuel San-Payo ilustrou.
À medida que leio penso que este seria um livro a incluir nas colecções do Secundário, de leitura obrigatória.
Dou o exemplo e para as minhas 5 netas mais crescidas já comprei para leitura de Verão. (Pôr apenas likes nos FB não ajuda a que se leia o livro, comprar é preciso, divulgar, em casa, à mesa, à noite gozando o ar livre também.
Ocorre-me que a qualidade de um autor, como neste caso de Cristina, se nota no cuidado (que é generoso, pois podia despachar o assunto como tantos outros fazem, sem se preocupar com o rigor da palavra) com que trabalhou em cada momento a fantasia própria do lugar pelo qual faz e dá a fazer a viagem. 
É o toque dos grandes que fundaram o realismo fantástico, como em Cem Anos de Solidão, ou Como Água para Chocolate!
Preenchem-nos a vida, nesse momento único da leitura.
E neste caso ainda, o remeter para Viajantes que a ela a fizeram viajar, como nos conta no Prefácio - sabendo que com o seu livro outra juventude, curiosa, viajará também. 
Eis-me de repente feliz e rejuvenescida, e ainda  não cheguei às profundezas do mar - esse mar de onde proveio a Vida, de que tantas vezes desmerecemos... 
Obrigado Cristina!

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