Já li o seu romance, deste lado do mar vermelho, e como sempre me acontece, é-me difícil
falar sobre obra alheia. Por isso nunca,
ou muito raramente, fiz crítica literária, para jornais ou revistas.
Por uma razão: também sou escritora e entendo que todo o
autor – é ele que assina o livro – tem direito ao mais e ao menos, em cada
momento da sua escrita.
Escrevi o meu primeiro romance aos dezoito anos, em francês
(estava em Paris, onde tinha a família da minha mãe). De regresso a Portugal
reescrevi, em português, e saiu na Ática: 1961.
O meu último, publicado em 2011 na Sextante, representa a
chegada aos 71 anos com romances, teatro, poesia e ensaios académicos de
investigação.
A escrita mudou, como a sua mudará – mas para si, felizmente ainda há muito tempo!....
Essa marca estilística é uma grande qualidade, que se purificará ou adensará com os anos, com os temas, com o que vier a ser escolhido, na necessidade de cada novo momento.
Quem pensa bem e escreve ainda melhor o que pensa tem o
caminho aberto à sua frente.
Se o estilo é realista, falta agora aludir ao imaginário –
herança de outros, já do realismo dito fantástico, como nos célebres e
fundadores Cem Anos de Solidão, que Saramago também leu bem, e a seguir a ele,
tantos outros das novas gerações.
O seu imaginário é no entanto mais obscuro e mais onírico –
o que o torna mais apelativo para quem a lê.
Deseja-se ler mais, saber um pouco mais.
Aqui entra a chamada estrutura da narrativa: recortada,
post-moderna no uso do flash-back e no aleatório de algumas situações que não
se fundem, antes se vão somando umas às outras.
A Sónia escolhe o mais, em vez do que na minha idade eu
teria escolhido: o menos.
Era Celan que dizia, num poema Cello-Einsatz: tudo é menos / do que é/ tudo é mais.
Por outras palavras, filosofando sobre a depuração do estilo
numa narrativa, o “menos” é na realidade “mais" : porque deixa o sentido profundo em aberto, o
leitor pode completar, reflectindo sobre o que não está dito…o mesmo podendo suceder connosco, ao
escrever deixando uma interrogação só nossa e que nos levará depois a outro
livro…
Resumindo: há uma soma de situações que tornam a narrativa talvez demasiado densa – sem que deixe de ser interessante - isto não é uma crítica negativa. É
uma constatação, apenas.
Mas noutros livros se calhar pensará que o denso, mais
depurado, não ficará menos intenso…escolha que será sempre sua, claro, o autor é dono e
senhor da sua criação!
3 comments:
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