Saturday, May 19, 2012

Ganymed


Brilhas à minha volta
na radiosa manhã, 
Primavera, minha amada!
Ardem no meu peito
as mil bençãos de amor
do teu calor eterno 
sentimento sagrado,
 beleza infinita!

Pudesse eu prender-te
nos meus braços!

Ah, no teu peito
repouso, com langor,
e as tuas flores, e as relvas,
penetram-me o coração.
Refrescas a sede que arde
no meu peito, 
amada brisa  matinal!
Oiço o canto de amor  
do rouxinol 
no vale envoado.

Já vou, já vou! 
Mas para onde? para onde?

Para o Alto! Subir é a palavra!
As nuvens debruçam-se,
as nuvens inclinam-se 
para o amor que as chama.
A mim! A mim!
subo
para o vosso colo!
Abraçando abraçado!
Subindo para o teu peito,
Pai de Eterno amor !


( J.W.Goethe, trad. Yvette Centeno)


Ganymedes, no coração do mito:
filho do Rei Tros, que deu o nome a Troia, era o jovem mais belo que se conhecia e por isso foi escolhido pelos deuses para servir Zeus.
Consta que Zeus desejava algo mais, desejava-o para seu amante. Assim, disfarçando-se de águia, arrebatou o jovem das planícies troianas.
Hermes, para consolar Tros do seu desgosto e da sua perda, oferece ao desditoso pai uma taça de ouro, fundida por Hephaestus ( o esposo de Vénus), mais dois belos cavalos,assegurando-lhe que Ganymedes era agora um ser imortal, poupado às misérias da velhice, e que sorridente, de taça de ouro na mão, serviria para sempre o néctar divino ao pai dos céus (Zeus).
Todo o mito contém uma lição: neste, o que inspira Goethe, poeta de grandeza universal, é a lição de que a paixão dos excessos do Belo, para ser eterna, não pode durar muito, uma  contradição apenas aparente, o poeta com este poema liberta-se da sua ânsia juvenil, abrindo espaço para outras fases da sua criação.
E ainda outra: que o poeta (o criador) que faz unicamente do Belo a sua paixão corre perigo, pois o muito amor dos deuses que amam o Belo através dele (a sua obra) mata em vez de redimir.


Bibliografia:
Robert Graves,(The Greek Myths, vol. I, II)








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