Tuesday, February 01, 2011

Roberta Ferraz


Um gesto amigo de Roberta Ferraz, que me envia os seus poemas, adivinhando que poesia é o que eu mais gosto de ler:
LACRIMATÓRIOS, ENÓCOAS (título que precisa de explicação para o comum dos mortais, e ela explica: lacrimatório diz-se de pequeno vaso funerário romano, de barro ou de vidro, para supostamente recolher as lágrimas de pessoas enlutadas, mas que continha os óleos odoríferos e bálsamos necessários aos ritos fúnebres; Enócoa: "jarro grego, com a curva da asa mais alta que a boca, usado para retirar vinho de recipientes maiores e servi-lo à mesa"), ao que julgo saber um primeiro bonito livro de 2009, capa de Mariana Mazzetto. Um livro de tom experimental, algo surrealista no contraponto das imagens, em busca de um novo equilíbrio interior, como quem, logo no primeiro poema o estrangeiro, "espera alguém para jantar". O poeta é sempre aquele que espera, é sempre aquele que chega - sendo ele mesmo ou o outro, como ensina Pessoa.
E de 2010 outros dois livros:
FIO, FENDA, FALÉSIA, escrito a três, como uma espécie de cadavre-exquis, ou de Renga, de sabor oriental na condensação da palavra, nalguns poemas, ou de explosão incontida nalguns outros, - todos ligados por um mesmo fio de inconsciente desejo de dizer;
e DIONISO E ARIADNE, com ilustrações de Isabella Lotufo.
Se Dioniso é tentação, Ariadne é referida como Anima - e aí mesmo começa o mistério, o labirinto e a busca.
Como escreve Maiara Gouveia no elegante posfácio que chamou de Saudação:
" Esta é a jornada de um desejo: Anima, o feminino sobre o mundo. Ariadne: começo do percurso (...) Com a destreza de Hermes, ponte entre dois mundos, Roberta reconta histórias subterrâneas, as mesmas de antes, as mesmas de sempre, inteiramente novas. E põe a mulher no centro da dança".
A recuperação de arquétipos do nosso imaginário permite o que neste livro acontece: um renovado prazer no contar, no encontrar dos ritmos que são próprios do desejo, do fazer e desfazer, nas pregas recônditas da memória.
O mito renovado esconde e ao mesmo tempo revela as nossas novas pulsões, o medo ultrapassado.

1 comment:

paulo said...

Sigo há alguns anos os seus blogs e a sua produção poética, que admiro.
Em particular a tradução de Celan "Sete Rosas Mais Tarde" com João Barrento é um dos meus livros favoritos.
Tenho alguns poemas, como os do blog Limiar Limite (http://limiardolimite.blogspot.com/), que equaciono editar.
Mas não estou seguro de que valham a pena ser editados.
Gostaria de saber a sua opinião.
Se achar que a amostra no blog http://limiardolimite.blogspot.com/ é interessante, e aceitar perder algum do seu tempo, poderei enviar-lhe por email os restantes para sua apreciação.