O Festival de Almada apresenta este ano Canções de Brecht que serão interpretadas por Teresa Gafeira e Luís Madureira, ambos bem conhecidos no nosso meio artístico.
Teresa deu a sua voz ao Marinheiro de Fernando Pessoa, ainda recentemente, trazendo ao público uma das obras do nosso notável poeta, cujos segredos ainda continuarão a ser desvendados por mais algum tempo.
Quanto ao Luís, quem assistiu ao recital de Façade, no Teatro São Carlos, também recentemente, não mais deixará de acompanhar qualquer espectáculo seu.
Ao prazer que nos é sempre dado, se gostamos de teatro e de canto, acrescenta-se, com estes artistas, o prazer da inteligência subtil das suas interpretações. Com eles estará Jeff Cohen, cujo curriculum inclui o ter acompanhado as grandes divas brechtianas, e isso mais uma vez recentemente em Paris.
Sublinho o recentemente, para que se note que a escolha de Brecht por estes intérpretes não é regresso ao passado, mas antes o elogio e o cântico de um eterno presente que texto e música ajudarão a entender melhor.
Num ensaio de 1935 Brecht afirmava que era a música "que permitia a existência de um teatro poético". A música o ajudaria à refundação de um novo modelo, que chamou de teatro épico , conseguindo, através dos "cortes" musicais que interpunha no texto, os seus melhores efeitos, de distanciação e de surpresa, por um lado, mas também, ( e disso talvez ele não estivesse à espera) de uma enorme adesão e sucesso. As canções adquiriram vida própria e eram cantadas por todo o lado...
O renome de Brecht ficou a dever-se, em primeiro lugar aos libretos de ópera, aos bailados, às cantatas drmáticas, filmes, e até, escreve um dos seus estudiosos, "jingles comerciais". O que não entrava pelos olhos no palco teatral, com Brecht entraria pelos ouvidos: a sua carreira artística estava traçada.
Um célebre crítico musical do seu tempo escrevia: " A Nova Música da Alemanha encontrou o seu poeta. O poeta é Bertolt Brecht".
Basta dizer que, das suas quase 50 produções dramáticas, só uma não é musicada. E continuando, com os números dados por Kim Kowalke ("Brecht and music: theory and practice", in The Cambridge Companion to Brecht) mais de 600 dos seus mais de 1500 poemas indicam nos títulos e mostram na estrutura o género musical (balada, canção...etc.).
Recital a não perder.
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