Au Matin de la Parole, com posfácio de Patrick Quillier, também ele poeta.
Foi uma leitura, ou melhor releitura, o Patrick já me tinha oferecido o livro há alguns anos atrás, gratificante, como bálsamo na alma, em momento que carecia de mais intensidade e mais simplicidade ao mesmo tempo.
Pode parecer contradição, mas não é.
O sentimento mais intenso é, ao fim e ao cabo, como lemos nas palavras dos Mestres de Okoundji, que ele evoca e retoma neste livro, é o sentimento mais simples.
Mais simples das coisas da vida, e também da vida no seu quotidiano, que esquecemos ou até desprezamos, no mundo actual demasiado apressado e demasiado febril. Vaidade das Vaidades...
No Amanhecer da Palavra seria o título em português.
Comecemos por aí: pelo amanhecer, ao mesmo tempo Aurora e Nascimento de um Verbo que se tornará matéria mesma da vida.
Vida contemplativa, feita de atenção e de recolhimento humilde.
Okundji é natural de uma tribu do Congo Brazzaville, e actualmente Psicólogo Clínico num hospital de Bordeaux, e Professor da Universidade.
A sua obra poética define-o como uma das vozes maiores da poesia africana, distinguida com vários Prémios. E este seu título que agora intercala no seu nome, de Mwènè, significa que completou um longo processo de iniciação com os Sábios da tribu originária, e que nele foi delegada a responsabilidade de continuar com a tradição, actualizando-a, pela vida e pela obra.
Este amanhecer que aqui nos é oferecido é um renascimento, um processo ritual de maturação filosófica e religiosa que só o tempo, Sábio máximo, nos pode conceder.
O Tempo e a Vida. A vida na sua multipla abundância: de luz, de escuridão, de frio, de calor, de alegria e de dôr, aquilo a que o poeta chama " os estados do ser vivo".
O amor é parte integrante desse estado de ser vivo: amor de plenitude, entrega e compaixão.
Fico-me, esperando ter despertado a curiosidade por este poeta secreto, com uma das citações dos aforismos de Ampili, a Grande-Mãe e Pampou, o Pai Eterno:
" que a ignorância é o ninho que o pássaro perdeu"...
E como se torna imperioso que os pássaros que por todo o lado esvoaçam, perdidos, recuperem o ninho, ao recuperar também a Palavra perdida, no seu Amanhecer!
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