Falando-se tanto hoje em dia em modelos de educação, achando uns que a jovens adolescentes de doze-treze anos, por exemplo, é mais útil dar a ler um manual de instruções de uma qualquer máquina do que um poema, quero eu, defendendo os que são de opinião contrária, trazer um exemplo de experiência pessoal.
Tendo lido em voz alta o poema de Pessoa Eros e Psique ( sei bem que tem múltiplas interpretações e das iniciáticas me ocupei noutros lugares, Universidade e não Escola Secundária) junto a ilustração feita por uma jovem na aula seguinte, que foi de desenho, depois de ouvir o poema
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante que viria
De além do muro da estrada.
...
A jovem fixou o que mais lhe interessava: a imagem dessa Princesa.
O resto do poema, que na realidade se ocupa da transformação e re-conhecimento do poeta enquanto cavaleiro que descobre a sua Anima arquetípica, como é óbvio não podia despertar o imaginário de uma criança (pois se até nos adultos esse entendimento muitas vezes é difícil...) cujos conhecimentos se prendem ainda aos desenhos de Walt Disney ou outros que pode ver no cinema.
Mas o importante é que, ao ouvir ler, uma imagem lhe surgiu, e depois a inspirou para o desenho da aula.
Falta o Cavaleiro, que ela pensa desenhar também. Um dia o fará.
Agora: dirão que também das instruções da máquina poderiam ter surgido imagens. Sim, mas num adulto, com humor, num criador que "desfizesse" as instruções, avariasse a máquina, a colocasse em estado de representação mais de banda desenhada moderna, ou post-moderna.
Há um tempo para tudo, e nesta idade em que se está ainda perto da infância, é crime não permitir que se goste e se sonhe com princesas: Pessoa deu o exemplo e já era um adulto.
Ele que teve em parte a sua infância perdida, quebrada pela vida, como dirá pela boca de Álvaro de Campos, soube sempre de como ser feliz na infância era importante.
E nós o que temos feito?
Temos apressado crescimentos empobrecedores que têm feito da Escola - lugar de privilégio por excelência - um espaço menos criador, menos feliz.