Tuesday, June 17, 2008

Brecht / Kurt Schwaen

De mais um dos muitos colaboradore que compuseram para Brecht, esta Cantiguinha.
 Irónica e popular, mostrando a diversidade de estilos e fontes de inspiração da obra de um grande autor, para quem não havia géneros "menores":

Kleines Lied/ Cantiguinha

E uma vez um homem
aos seus dezoito anos
à pinga se entregou:
a morte lhe causou
morreu logo aos oitenta.
É claro como a água...

E um bébé um dia
de súbito morreu
e tinha só um ano,
por isso é que morreu.
Beber ele não bebeu,
morreu só com um ano.

É claro como a água...
teremos de dizer
o álcool não faz mal...
  

Brecht/ Dessau

De beleza pungente e grande contenção, este Deutsche Miserere que bem diz, ao modo quase de um Hai Kai, como foi grande o sofrimento e a desilusão do post-guerra, na Alemanha.
Canção de Brecht, musicada por Paul Dessau, um dos grandes que o acompanhou.

Miserere Alemão

Sou ainda uma cidade,
por pouco tempo.
Cinquenta gerações 
já me habitaram...
Recebo agora
o pássaro da morte

 em mil anos erguida 
numa lua abatida.


(Recordo apenas que a letra foi adaptada à música, para ser cantada em português).

Sunday, June 15, 2008

BRECHT: Balada da "puta de judeus" Marie Sanders

Esta é  mais uma das aventuras que a obra de Brecht nos proporciona, e a que poderemos assistir no Recital do Festival de Almada.
O desenho que reproduzo é de Bert Tombrock, datado de 1940 - ainda a guerra não terminara- inspirado na balada de Brecht/ Eisler.
Nesta balada se conta a história de uma jovem que se apaixonou por um judeu  e ia ter com ele quando podia, até que foi denunciada por isso, e castigada, de acordo com a nova legislação anti-semita, produzida em Nuremberga: cabeça rapada como criminosa, placa ao pescoço com a inscrição "puta de Judeus" e travessia das ruas para ser publicamente ainda mais humilhada, como lição a outras e outros que se atrevessem ao mesmo ( a mistura das raças...).
Podíamos discutir a actualidade deste texto.
Na minha opinião não podia ser mais actual. O Julius Streicher que é citado no poema existiu e foi,  um poderoso anti-semita, director do  Stuermer e íntimo colaborador de Hitler, que  defendeu no célebre Putsch da Cervejaria de Munique.
Mais tarde foi feito Gauleiter (comissário político) da região da Francónia onde promoveu as perseguições dos nazis  aos judeus, tendo conhecimento dos planos da "Solução Final" e tendo sido, por isso, nos Julgamentos de Nuremberga, condenado à morte e enforcado. Entretanto, quanta gente inocente era levada, como esta pobre Marie Sanders, cujo destino final Brecht deixa em aberto. Mas claro, o Holocausto iniciara, com estes e com tantos outros episódios, fruto de novas leis contra os civis judeus,  a sua marca negra na História. 
A História tem de ser recordada: não nos enganemos, com os movimentos actuais dos skinheads, um pouco por todo o lado, os mega-concertos de histeria colectiva ( que no poema o rufar dos tambores na rua bem evoca), os símbolos recuperados, como se de brincadeira se tratasse, e ah, não esquecer aquela eterna e perversa capacidade de denúncia que o ser humano tem e logo põe em prática, se daí adivinha algum proveito.
Há muita lição escondida que podemos retirar deste poema.
O mundo fecha os olhos aos novos genocídios, às novas humilhações, e haverá sempre algum chefe, ou talvez só algum "modesto" vizinho, disponível para o afiar da faca, o apontar do dedo, o pendurar da placa, o aplaudir da rua... 
Não foi fácil o trabalho de tradução da letra de Brecht, de modo a respeitar ao máximo a partitura belíssima de Eisler. O resultado aqui fica, depois do prazeiroso exercício (como diriam os nossos amigos brasileiros) feito com Luís Madureira, Teresa Gafeira e last but never least, Jeff Cohen, o grande companheiro de aventura.

Balada da "Puta de Judeus" Marie Sanders

Em Nuremberga passaram uma lei
fazendo chorar muitas mulheres  
que dormiam com o homem errado.
"Mais e mais gente nas ruas,
com força toca o tambor,
Deus do Ceú, se houvesse alguma coisa
seria hoje à noite"...

Marie Sanders, teu amado 
tem o cabelo muito preto,
 melhor é não o  veres hoje, 
como ontem o foste ver.
" Mais e mais gente nas ruas,
com força toca o tambor,
Deus do Céu, se houvesse alguma coisa
seria hoje à noite"...

Minha mãe, dá-me a chave
nem tudo corre mal,
A lua está igual.
"Mais e mais gente nas ruas,
com força toca o tambor,
Deus do Céu, se houvesse alguma coisa
seria hoje à noite"...

Certa manhã, às nove, atravessou a cidade,
de camisa e de placa ao pescoço,
o cabelo rapado, a rua aos berros,
ela de olhar gelado...
" A gente fica nas ruas,
o Streicher vai falar esta noite...
Grande Deus, se soubessem ouvir,
saberiam o que fazem comnosco ".

Já agora e para que não se estranhe, há diferença, neste último verso, entre a edição alemã e a partitura de Eisler: onde acima eu traduzi,olhando só o texto, "saberiam o que fazem comnosco", tem Eisler: "saberiam o que fazem com elas". Esta versão será a respeitada, no recital.
 A alteração pouca importância tem, face ao sentido profundo do que Brecht pretendeu dizer.






Wednesday, June 11, 2008

Canções de Brecht


O Festival de Almada apresenta este ano Canções de Brecht que serão interpretadas por Teresa Gafeira e Luís Madureira, ambos bem conhecidos no nosso meio artístico.
Teresa deu a sua voz ao Marinheiro de Fernando Pessoa, ainda recentemente, trazendo ao público uma das obras do nosso notável poeta, cujos segredos ainda continuarão a ser desvendados por mais algum tempo.
Quanto ao Luís, quem assistiu ao recital de Façade, no Teatro São Carlos, também recentemente, não mais deixará de acompanhar qualquer espectáculo seu. 
Ao prazer que nos é sempre dado, se gostamos de teatro e de canto, acrescenta-se, com estes artistas, o prazer da inteligência subtil das suas interpretações. Com eles estará Jeff Cohen, cujo curriculum inclui o ter acompanhado as grandes divas brechtianas, e isso mais uma vez recentemente em Paris. 
Sublinho o recentemente, para que se note que a escolha de Brecht por estes intérpretes não é regresso ao passado, mas antes o elogio e o cântico de um eterno presente que texto e música ajudarão a entender melhor. 
Num ensaio de 1935 Brecht afirmava que era a música "que permitia a existência de um teatro poético". A música o ajudaria à refundação de um novo modelo, que chamou  de teatro épico , conseguindo, através dos "cortes" musicais que interpunha no texto, os seus melhores efeitos, de distanciação e de surpresa, por um lado, mas também, ( e disso talvez ele não estivesse à espera) de uma enorme adesão e sucesso. As canções adquiriram vida própria e eram cantadas por todo o lado...
O renome de Brecht ficou a dever-se, em primeiro lugar aos libretos de ópera, aos bailados, às cantatas drmáticas, filmes, e até, escreve um dos seus estudiosos, "jingles comerciais". O que não entrava pelos olhos no palco teatral, com Brecht entraria pelos ouvidos: a sua carreira artística estava traçada. 
Um célebre crítico musical do seu tempo escrevia: " A Nova Música da Alemanha encontrou o seu poeta. O poeta é Bertolt Brecht".
 Basta dizer que, das suas quase 50 produções dramáticas, só uma não é musicada. E continuando, com os números dados por Kim Kowalke ("Brecht and music: theory and practice", in The Cambridge Companion to Brecht) mais de 600 dos seus mais de 1500 poemas indicam nos títulos e mostram na estrutura o género musical (balada, canção...etc.). 
Recital a não perder.



Tuesday, June 03, 2008

Arte e História Militar


Da Série História Militar, é publicada na ed. Prefácio esta obra dedicada ao Exército Português na Guerra Peninsular 8vol.1, do Rossilhão ao fim da Segunda Invasão Francesa,1807-1810). O autor é João Torres Centeno, advogado de profissão, que se tem dedicado a estes estudos, continuando com este volume uma série que tem surgido com o alto Patrocínio da Comissão Portuguesa de História Militar.

Apresenta-se nela o que o autor define como um breve desenvolvimento, desde 1640 até às reformas do fim do séc.XVIII e mais detalhadamente a organização desde a campanha do Rossilhão até ao fim da 2a. Invasão, quando se funde com o Exército
Britânico no exército de operações. Este viria a ser o embrião do Exército Anglo-Português, superiormente comandado pelo futuro Duque de Wellington, vencedor de Napoleão em Waterloo.
Duas chamadas de atenção: com abundante matéria de investigação, muito e interessante material iconográfico, lembra que a História de Portugal se fez de muita inteligência e arte militar, e desde longe.
Para quem se dedique a estes assuntos, recomenda-se que acorra à feira do Livro, enquanto é tempo. E que se leia, sempre, e cada vez mais, não deixando que se apague a nossa memória política, social, cultural. Pois vendo bem, onde há leitura e cultura a memória estará sempre presente.
Cito o director da Fundação Murnau (para o cinema ), o que ele diz serve para toda a memória cultural:
" O que seria a vida sem memórias ?
O que seriam as memórias sem imagens?
O que seriam as imagens dos nossos tempos sem o cinema ?"

O livro ainda  é o nosso cinema, no tocante à memória histórica.

Monday, June 02, 2008

Fashion Now 2


Af Vandevorst:
" Fashion is a language".
" Beauty lies in the unexpected".
E quanto às lições de vida: " A rolling stone gathers no moss".