Sunday, October 27, 2024

As Mães de Odair

 in memoriam

São tantas as mães de Odair

tantas por todo o mundo

onde nascem as crianças

que as mães embalam

ao colo 

o carinho que lhes dão

 ajuda a adormecer

esquecer a fome que sentem

lá fora a guerra a correr

são tantas as mães que sofrem

ao embalar os seus filhos

tão belos quando nasciam

talhados para viver...

As mães sempre a rezar

para afastar os papões

o medo do anoitecer

que venha roubar o sono

 de cada filho no colo

já com sina de morrer.

Tantas as mães de Odair

e nada para dizer

os grandes não estão ali

ali só há mães e filhos

os homens preferem fugir

os homens preferem fingir

que tudo terá solução 

só as mães ainda desejam

filhos pequenos ao colo

uma pausa no seu tempo

de nascimento feliz

elas são as mães de Odair...

27 de Outubro, 2024



 

 

Friday, October 25, 2024

Outono

 


Acabou o Outono

acendem-se as lareiras

o crepitar da lenha

a ondulação das chamas 

aquecem-nos as mãos. 


25 de Outubro, 2024

Monday, October 14, 2024

Romãs

 

Um poema de romãs

que me enviou uma amiga

trouxe-me da infância

os recados da avó: romãs sim, 

mas depois das primeiras chuvas

porque senão adoeces.

Eu olhava na ramagem

a bela romã quase aberta

ia espreitar se chovia

não me fazia de esperta

a avó não gostaria...

era melhor esperar

 que finalmente chovesse

e eu apanhava a romã

que para mim já sorria

os belos bagos vermelhos

brilhando como rubis

em coroas de princesas

quase me arrependia

de estar ali a comê-las...




Dores

 

Não é às cinco

é às seis

que se dá o parto da dôr.

Quem diria, em tempos de outrora,

que as dores se instalariam

com o seu horário próprio

condicionando as horas

e os dias

dores do parto de um tempo

de que nada se sabia

escondido como a serpente

num Éden já tão distante

mas aguardando essa hora

que deus já lhe definira

hora de dôr e demora

que um dia nos chegaria...


14 de Outubro, 2024


Thursday, October 10, 2024

Zelensky

 

Zelensky em Downing Street

no seu caminho de bravo

que um dia se esgotará

não quis passadeira vermelha

para ele já estendida

andou pelo passeio comum

e depois foi recebido

à porta pelo Ministro

que só promete o que pode

o que pode é muito menos

numa batalha tão dura

do que poderia dar

depois do aperto de mão

que parece salutar...

Sai o gato que é mascote

e também ele ansioso

mas como é de estimação

poderá sempre voltar.

 Zelenky não é um gato

mas guarda as suas vidas

escondidas

também ele tem uma vida

que um dia se esgotará

não se diz isso agora

que o seu tempo é de lutar

mas não se dá grande ajuda

só passadeiras inúteis

que ele bem pode dispensar

quem lhe dera ser o gato

ignorando os corpos mortos

que na Pátria se amontoam

sem que se possam desfeitos

pelo menos enterrar.


10 de Outubro, 2024

Monday, October 07, 2024

 ISRAEL

Israel, Israel

 seca as lágrimas

que te afogam

leva as tuas mulheres

até ao rio sagrado

do Jordão

ajuda a lançar as redes

o que vem nas redes

são corações partidos

pedaços do que se amou

que a mão de um deus antigo

estendida não perdoou

castiga sempre que pode

Israel Israel

foge da maldição

está um Anjo ao portão

leva as tuas mulheres

dá-lhes um coração

que se transforme em pedra

se afunde no rio de lágrimas

leve consigo as redes

da pesca de maldição

7 de Outubro, 2024

 

Saturday, October 05, 2024

Fátima e as suas rosas

 FÁTIMA E AS SUAS ROSAS

(para a Fátima Morgado)

As rosas surgem do nada

vão ter com quem as procura

nos jardins

ou nas palavras

de um poeta celebrado

que uma rosa picou

estava ele já acamado

e só com as rosas falava...

Estas que vejo agora

que a Fátima fotografou

e para os amigos deixou

nas páginas do facebook

são de uma côr especial

um violeta transparente

asa de borboleta

escapando ao jardim de Alice

em que as rosas não brincavam

eram rosas invejosas

de uma beleza tão rara

e ali tão inesperada

que só para este olhar

da Fátima se revelaram.

 

14 de Setembro, 2024

TANTO MAR, para o Pedro Chorão

  

(para o Pedro Chorão)

Comecemos com a treva

a mais profunda do mar

de que as sereias fugiam

em busca dos seus rochedos

onde podiam cantar

e com a voz melodiosa

seduzir os seus amados

 

Eram tantos e tão belos

com tanto amor para dar

deusas saíam das ondas

mais beleza de invejar

os cabelos enrolados

e nas mãos o seu tear

fazia e desfazia as cores

com que queriam pintar

 

Pintavam os seus amores

nas altas ondas revoltas

manchas nas brancas areias

nas dunas de repousar

 

E mais uma vez cantavam

enquanto a treva as levava

e os corpos se desfaziam

nas ondas de tanto mar



Thursday, October 03, 2024

O eu e o outro

 

 O eu e o outro:

É preciso ser outro

para entender os outros.

Sim, mas como ser outro

se já o simples ser

é tão difícil .
Somos, mas não sentimos

nem sabemos o que somos

a aventura começa logo ao nascer,

viemos sem saber como nem de onde.

O eu irá ser construído, ou destruído,

enquanto o tempo passa

e como entender então o que é o outro

se o tempo passar depressa

sem permitir que se conheça o eu

enquanto outro

atento a si, e aos outros?

Como se definirá uma tal existência

uma revelação que amplie o sentimento

de ser um e o outro, de ser todos

ou de não chegar a ser nada nem ninguém

sendo contudo o rasto de algo que ficou

uma semente que aguarda, uma poeira

ténue esperança de que haja um momento

para si e o outro, para ambos