Tuesday, May 16, 2006
Gottfried Benn
Vasco Graça Moura, 50 poemas de Gottfried Benn, Porto, s.d.
Belíssima tradução de GOTTFRIED BENN ( como todas as que Vasco Graça Moura nos tem oferecido ) e que recordo porque passam em 2006 cinquenta anos sobre a sua morte, em Berlin, cidade onde se tinha fixado de novo depois do fim da guerra, continuando a escrever e a exercer clínica como médico militar, que fora a sua profissão.
Como diz Graça Moura, no prefácio, as ideias de Benn e as suas posições políticas "conferem-lhe traços antipáticos" que são resumidos por Michael Hamburger em REASON AND ENERGY:STUDIES IN GERMAN LITERATURE.
Para Benn era incontestável a existência de um POEMA ABSOLUTO, o POEMA SEM FÉ, o POEMA DIRIGIDO A NINGUÉM, como se o absoluto residisse exclusivamente na voz e no labor de quem o escrevia.
Gottfried Benn pertenceu à geração de um Pessoa, de um Valéry, mas conserva na sua poética os traços de um Expressionismo radical e na verdade ultrapassado, ao tempo, pelos Modernistas e post-modernistas, que romperam precisamente com o sistema fechado da Ideia absoluta, ou Poema absoluto.Entretanto acontecera o surrealismo, a segunda guerra mundial e acima de tudo a voz pungente, o apelo da escrita-memória, de Celan.
G.Benn interrompe a escrita a partir de 1936, quando ainda saem os POEMAS ESCOLHIDOS, e retoma a publicação da sua obra em 1948,com POEMAS ESTÁTICOS.
Aqui fica um poema que destoa do realismo cru de muito do que escreveu, mas condensa o mais interessante:o vôo da palavra.
PALAVRA,FRASE
Palavra, frase - E as cifras falam
a vida vivida, súbito sentido,
o sol estaca, as esferas calam,
tudo se concentra a ela volvido.
Palavra - um brilho, um voo, um fogo,
um jacto de chamas, de estrelas um traço -
em redor do mundo e de mim há logo
o escuro medonho no vazio espaço.
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6 comments:
Cara Prof.,
O nome do Benn chamou-me a atenção...
"Thomas Mann avait démisssionné de L'Académie des art et avait refusé de signer la declaration de loyauté au nouveau régime redigée par Gottfried Benn, mas il n'avaiat pas officiellement condamné L'Alemagne nazie, ce à quoi ses enfants( Klaus e Erika), engagés corps et âme dans la lutte contre le régime nazi, ne cessaient de l'exhorter."
in ERIKA E KLAUS MANN, "Fuir pour vivre" Récit, Paris, Autrement Littératures,1997, p.11-12.
PS: Não sei mais nada sobre o Benn, nem as razões pelas quais se prestou a serviços ao regime nazi, a não ser pelos olhos da família Mann...(pela mãe brasileira, pelo irmão comunista, pelo pai brilhante, autoritário e quase colaborador, como pelos filhos loucos...), pela qual tenho uma paixão incontrolável e por isso me impede de tecer outro tipo de comentários.
Aquele abraço
PS: Vou receber dentro de dias, "Nathan le sage"!
Benn era médico miltar e serviu como tal; mais tarde, em 1938 foi oficialmente proibido de escrever, e foi banido da Associação de Escritores de então.Professava uma fé cega no "seu povo alemão" , modelo de toda a cultura e civilização, tinha um orgulho próximo de Lutero, de Herder e dos Expressionistas, penso que bebeu em Heidegger o demasiado orgulho que levou onde levou.
...aquilo de que gosto em Benn é mesmo da poesia.O resto, sendo naturalmente motivo de alguma reserva, não me interessa.
Tão simples quanto isto:é necessário distinguir o poema da pessoa real do poeta que o «fingiu»...O mesmo se diga quanto a outros proscritos pelas suas ideias, como, só para falar de alguns(entre artistas e poetas)Celine, nos seus inícios ou Ezra Pound-ou Elia Kazan -mais recentemente a censura francesa a uma peça de Peter Handke.
A ignorância da lei não é nenhuma justificação para pedir escusas, eu sei.
Lá vou ter que ler o Benn a seguir ao Celan que já estava na lista.
Quanto ao comentário da Amélia, só gostava de lembrar que essa escrita fingida do mentiroso do poeta, foi escrita na cabeça de um tipo a transbordar de ginjinha. Só ao Fernando é permitido dizer uma coisa dessas. Mas sim, admito todas as distância entre as palavras e a realidade. Mas não te ponhas na posição do observador não observado...
Aquele abraço para as duas
Amigos, para deleite de ambos vou transcrever no blog mais uns poemas de Benn. Já no passado, quando Alemanha sofrera as Invasões francesas, Fichte escreve os Discursos à Nação Alemã, evocando um passado glorioso de cultura, coragem e civilização, e incitando à recuperação de uma dignidade só aparentemente perdida. Depois da derrota na guerra de 14-18 o espírito inflama-se de novo e muitos foram os que se deixaram inflamar. Em crise o Messianismo surge, temos os ex. de Vieira e de Pessoa, entre nós.
Benn recolheu-se a um silêncio longo, serviu na prática clínica o seus doentes, ouviu música, viu pintura, sublimou a sua palavra poética. Redime-se por aí, porque a poesia é maior do que o homem, mas a memória histórica não pode deixar de existir e V.Graça Moura fez bem no prefácio à tradução.
Para não se acabar a dizer que o extermínio dos campos nazis nunca exisitiu...
Fokas: já me explicou que só por engano respondeu ao meu comentário - creio que em tom de brincaeira- e que pensava ser eu uma das suas amigas.Tudo certo, então.Vale a pena ler Benn...
peço desculpa à Prof.Yvette Centeno pela intormissão deste comentário, que poderá, caso o deseje, apagar.
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