Wednesday, May 31, 2006

Em Portugal, a aventura da PO.EX



Neste volume dos anos setenta encontramos uma recolha dos textos teóricos e outros documentos da poesia experimental portuguesa que, tal como os outros movimentos do género, floresceu na realidade mais cedo, nos anos sessenta.
Ana Hatherly foi sem dúvida a Musa inspiradora, embora se deva a E.M.de Melo e Castro a elaboração dos organigramas que ele, poeta-engenheiro, se esforçou por deixar como referencia .
Temos assim o que ele chama " A ROTURA de 1960,e a POESIA 61", num dos braços, com o seu:

"radicalismo
semântico/textual

Reformulação de um
discurso outro

Neoplatonismo teorizante."

E no segundo braço a POESIA EXPERIMENTAL, com o seu :

"Radicalismo morfológico
A palavra objecto
O texto matéria
Empirismo sensual
Visualização
Sintaxe combinatória
Uma semântica outra."

Cita, em nota, O PRÓPRIO POÉTICO, eds.QUIRON, São Paulo, como fonte a consultar para um maior desenvolvimento.
Em organigramas seguintes, na deriva da PALAVRA,faz desembocar em arte experimental, nem sempre poesia mas sempre palavra poética, correntes várias que evoluem a partir da tradição oral, da tradição escrita literária, passando por todos os "ismos" conhecidos até à chamada "literatura psicológica" de influencia freudiana (o surrealismo) ou Junguiana com a abertura que ele faz ao inconsciente colectivo, na altura um conceito inovador e muito discutido, sendo hoje plenamente aceite.

Foram muitos os praticantes da Arte experimental, e talvez omita algum, mas sem maldade. Recordo os que conheci e admirei:
Ana Hatherly que, tal como Henri Michaux, deu pintura à poesia, e poesia à pintura, em exercícios de rara beleza.
Melo e Castro, o organizador de ideias, numa época em que fazia falta des-organizá-las para respirar melhor.
Salette Tavares, Musa também ela, autora de formas concisas convidando ao olhar e ao pensamento.
António Aragão, Alberto Pimenta, inspirados e contraditórios, com obra em prosa, em poesia, e com performances que, no caso de Alberto Pimenta, foram sempre exercícios de verdadeira imaginação e criação em liberdade, como agora de novo nos fariam muita falta. A voz de Alberto Pimenta é ao mesmo tempo sábia e irreprimível, quando não explosiva; e o seu olhar é crítico, não separando a experiencia individual da colectiva, com suas amarguras.
Recordo o Alexandre O'Neill e, claro, o Herberto Helder, da Electrónicolírica e de tudo o mais que se segue na sua obra de tão grande fôlego e inspiração continuada.

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