Tuesday, October 13, 2015

Prévert, Les feuilles Mortes


Les Feuilles Mortes / As Folhas Mortas / Autumn Leaves
Jacques Prévert poema
Joseph Kosma composição


Oh queria tanto que tu te lembrasses
Dos dias felizes em que éramos amigos
Naquele tempo a vida era mais bela
E o sol ardia, muito mais do que agora

As folhas mortas são varridas do chão
Como vês ainda não me esqueci
As folhas mortas são varridas do chão
Memórias e lamentos vão com elas também

E o vento norte leva tudo para longe
Para a noite fria do esquecimento
Como vês, ainda não me esqueci
Da canção que tu então me cantavas

É uma canção, igual a nós,
Tu gostavas de mim, eu gostava de ti
E vivíamos os dois sempre juntos
Tu que me amavas e eu que te amava a ti

Mas a vida separa os que se amam
Devagarinho sem se fazer ouvir
E o mar apaga na areia
o rasto dos amantes desunidos

É uma canção, igual a nós,
Tu gostavas de mim
E eu gostava de ti
E vivíamos os dois sempre juntos
Tu que me amavas, eu que te amava a ti

Mas a vida separa os que se amam
Devagarinho sem se fazer ouvir
E o mar apaga na areia
o rasto dos amantes desunidos


(trad. Yvette Centeno)








Saturday, October 10, 2015

OssO, de Rui Zink

Rui Zink nunca deixará de nos surpreender.
É da sua natureza. Edita, com ilustrações de sua mão, um texto elaborado sobre  uma série de diálogos incisivos, directos, já preparados para algum palco imaginado,  despido e sem concessões.
Começa logo pelo título, enquanto não nos dá a obra.
Osso, que espécie de osso nos atira, com que restos de personagens, ideias, pensamentos, situações (a carne). Com que subtis brincadeiras de linguagem.
Num dos seus livros anteriores, A Instalação do Medo, quanto mais eu ia lendo, mais Kafka e o seu Processo me vinham à memória, pelo adensar de um ambiente que atravessava o diálogo e nos transpunha para uma realidade que, sem o sabermos, já era de facto a nossa.
Vivemos esse medo e agora surge este Osso : será o último resíduo do que somos? o último reduto do que podemos ser?
A escrita de Rui nunca é inocente, como não são inocentes os seus comentários no Facebook. Não é a dimensão, é a intenção, é a intensidade...quantas vezes surgindo por trás de um riso que se desfaz.
Este Osso, que adiante, ao ler o capítulo sobre o amor se verá que é uma brincadeira com "oso" , urso em castelhano, parte de um trocadilho sobre um atentado à bomba
 - possível acto de " terrorismo"  ou sobre a palavra  "turismo" mal compreendida pelo interlocutor com quem se desenvolve, na verdade, o que bem pode ser o suporte de uma peça de teatro.
 No diálogo dos dois únicos personagens vai perpassando um conjunto de temas de grande actualidade, desde a questão dos "migrantes", até à dos receios dos atentados de uns ou outros, até à questão do que é oportuno ou não, da tortura que é, obviamente (ainda que com ironia) ser torturado, como nas séries que reproduzem a vida, a aventura em que se cai consoante a idade e o que dela se faz, em novo ou ou em velho, etc. etc.
A sedução deriva do ritmo, do batimento das palavras de um e outro ou de um contra o outro, num diálogo por vezes torrencial, outras vezes medido, mas sempre em pensamento contínuo, para dar que pensar.
Esse é o Osso que Rui Zink nos atira: em que pensamos, que deixámos de pensar? Como vivemos cada momento em que deixámos de viver?
Acender de brincadeira um isqueiro - suposta falsa bomba - num posto de gasolina - suposto bar?
E a seguir a ler este texto inquietante o que iremos fazer?
Cabe ao leitor a resposta.