Sunday, July 10, 2011

Alexandre Delgado,A Rainha Louca

Primeiro foram as Luzes de Leonor, a Marquesa de Alorna, sua vida romanceada de um modo próximo (para não dizer mesmo vivido) por Teresa Horta.
E agora, integrada no Festival de Almada, encenada por Joaquim Benite, a ópera que nos é oferecida por Alexandre Delgado, libretista e compositor.
Parte da peça de um jovem dramaturgo que nos deixou um legado de rememoração crítica da nossa História, Miguel Rovisco: O Tempo Feminino.
E como que lembrando que somos antigos, cultos e quem sabe loucos, neste momento de crise política e identitária (com uma Europa que afinal...) - surge então esta Rainha Louca pela mão de Alexandre Delgado.
Saúdo a iniciativa, saúdo a encenação, tanto mais sóbria quanto mais na loucura da Rainha se avança, a cenografia de apontamento até à cena final, de rodopio semi-expressionista ampliando os gritos e a dança frenética com que desce o pano.
E saúdo o libretista: não é fácil adaptar um texto à composição musical, ainda que se faça como Wagner, que diz que só quando tem tudo bem incorporado na imaginação se lança para a escrita da música e do poema.
Partir de uma peça que já tem linguagem e construção dramática própria é certamente mais difícil. Onde houver excesso, que a peça permite, terá de haver contenção e equilíbrio que depure o texto sem o deformar, antes condensando as imagens mais fortes que a música por sua vez poderá ampliar.
Deste ponto de vista a escrita de Alexandre Delgado é magnífica: reduz ao essencial o que no palco é dito (cantado) deixando que a nossa imaginação preencha também alguns dos espaços em aberto.
Assim vivemos com a Rainha, votada ao grande isolamento da sua loucura (segundo alguns não era loucura, era uma enorme depressão que lhe tomou conta da vida), os momentos cruciais de um fim de vida. Podemos fixar-nos num conjunto de imagens, que texto e música oferecem, e ajudam a estruturar melhor o sentido.
Esta escolha é a marca de um bom libreto, de uma escrita que conduz, sem perder nunca o fio.
Quando a Rainha, de quem as damas já gritam que está louca, chama pela sua Rosa, a sua Anima negra, sabemos que o fim não tardará.