Thursday, November 30, 2023

 

Yuja Wang e Gautier Capuçon

(O Cisne de Saint-Saens)

 

Na água adormecida

desliza o Cisne

de pena branca

sedutora e suave.

Vem buscar a Amada

que ali não o esperava

e quando ele chega

e se revela Deus

já não a encontra ali

já tinha sido levada

por uma asa mais negra

inesperada

 

1 de Dezembro, 2023

Tuesday, November 28, 2023

 Granada

I

Em Granada de noite

junto aos jardins do Alhambra

os jovens que se amam

tão quente ainda e tão suave

o momento que em breve

cessará

caindo noutro tempo

II

É tão fria a velhice

o sangue não circula

o coração não bate

não existe o desejo

que já nem é memória

da emoção perdida

naquela noite quente

tão suave de outrora


Y.K.Centeno

 5 de Dezembro, 2023

 

Tuesday, November 21, 2023

 Haiku da simples velhice (para o Miguel Real)

Dizemos

que bom, estou viva!

Mas não estamos,

devagar a Vida 

já começou a tirar

as coisas de que gostamos

Y.K.Centeno

21 de Novembro, 2023 

Monday, November 13, 2023

Jorge Reis-Sá, Todos os dias, ed. casa dos ceifeiros, 2023

 Hoje em dia, não todos os dias, mas de vez em quando, como ultimamente, o que me surge para ler parece ter sido escrito de propósito para mim, para mais uma leitura que não me deixe esquecer como ler é importante. Mantemo-nos vivos, por via dos outros que se ocupavam da vida, no seu tempo.

Estamos perante a reedição do que foi o primeiro romance de Jorge Reis-Sá. É raro um autor que deseje  recuperar o que foi a sua primeira tentativa, poética ou romanesca, ou porque a considera ingénua, ou imperfeita,face aos progressos que fez, e conheço alguns, que não citarei, que até omitem, na sua bibliografia, esse primeiro título.

Mas aqui não foi o caso.

 Jorge não renegou a sua primeira narrativa, feita de episódios que têm a contenção dos contos, sendo que sempre achei a arte do conto a mais difícil de todas, precisamente pela capacidade de dizer com menos um todo que ali está contido, do sentido do momento que ali se viveu, e onde é contado.

Eu, falando por mim, confesso que não releio nunca o que escrevi. O que em cada moemnto tinha de ser dito, foi dito, e assim ficará, porque o meu impulso é de seguir em frente, procurar o que há para além do dito, tentando dizer algo mais, ou outra coisa, que reflicta o momento em que vivo. Vivemos em cada momento uma espécie de totalidade que nos aguarda, ao escrever, que não tenha repetição, que seja única, ali mesmo, ainda que difícil de explicar, como a misteriosa afirmação de Deus a quem o interpela sobre quem é ele: eu sou aquele que é. Prefiro esta designação, em vez da usual eu sou aquele que sou. Nesta podemos inferir que ele simplifica a existência do Ser, sou assim como sou e não tenho mais nada a dizer. Uma espécie (perdoem-me o atrevimento...) de aguentem, ouvido na política da indiferença. Já eu sou aquele QUE É alarga o conceito de SER a uma misteriosa universalidade, eterna, de que Heidegger se ocupará longamente no SER E O TEMPO. Aquele que é, é eterno no eterno rio do Tempo, na vibração do cosmos, e está dada uma resposta que não aquieta, mas antes inquieta para sempre aquele que faz a pergunta.

O autor escolheu para epígrafe uma citação de Carl Sagan, o sábio que ilustrou e antecipou gerações que se debruçaram sobre os mistérios de um cosmos eterno face a face com a vida, a existência que é nossa, em que dia a dia todos os dias se materializam, parecendo comungar de uma esperança de eternidade que Sagan refere como desejada, mas reconhece como provavelmente impossível. Tudo no decurso dos dias, todos eles, nos dão a ver o fio da efemeridade, do nascimento à morte. 

É ilusão julgar que alguma coisa de nós, ideia, sentimento, memória que deixemos irá alguma vez perdurar. Um pouco, sim, mas não para sempre. 

Volto a esta obra de Jorge Reis-Sá, que chegou até mim, agora, depois de tantos anos. Alguma coisa nela deixou marca e temos de ler e descobrir o que foi. A forma, como se diz ? O conteúdo? como se diz ao querer determinados conceitos fixados que o Modernismo aboliu por completo, nos anos vinte da Europa? Eu diria que a fusão de ambos, conteúdo com um sentido herdado do neo-realismo detalhado, cuidando do ambiente, da descrição cuidada de personagens e acontecimentos relativos a cada momento descrito, e forma que de facto inova, na estrutura da narrativa entrecortada por reflexões que obrigam a desvio do pensamento do leitor, da época que é de memória de outros tempos, para o presente de agora. E é por essa necessidade de trazer o passado até  ao agora dos nossos dias, todos os dias, que alarga a dimensão da narrativa e deixa a marca, aquela ideia, sentimento, memória, por pequena que fosse, de que falava Sagan. 

Nisto reside o interesse e a actualidade desta obra, num momento em que diários e memórias, recuperação e transversalidades, se tornaram actuais, renovando o prazer de reler o que outrora foi escrito.

Logo no Índice temos a indicação de que estamos perante o esforço de recuperar, reflectido numa prosa cuidada, de um tempo que remonta ao passado, e se divide em fases: a Aurora, a Manhã, o Almoço, a Tarde, o Crepúsculo, o Jantar e a Noite. Para que se perceba que estamos no recuperar dos tempos de uma vida, nada seria melhor do que esta partição de capítulos. O tema, então, é aqui o Tempo, atravessando o ser, os diversos seres que a escrita materializa ao descrever as situações  e os comportamentos de cada interveniente. A progressão da vida, os incidentes do quotidiano vivido na existência mais comum ou mais complexa. Gosto especialmente do modo como o narrador é seduzido, ao longo das páginas que correm, pela imagem-memória de uma criança que por ali se atravessa e o leva a dizer que essa criança é o mlehor que se tem. Pois através dela se recupera a infância que também já se teve, e embora longínqua se torna viva e presente.

Alguém, não me lembro onde, fez referência negativa ao uso da palavra moço numa prosa actual. Não sei porquê. Está em perfeita harmonia com o realismo dos ambientes descritos, desde a casa, ao campo, às galinhas, ao ranger das madeiras, tantos outros pormenores marcantes num neorealismo ali exercitado. Sou do tempo em que na Tavira da minha avó Rosa ouvia dizer, dos rapazes, os moços, ou os mocinhos, se eram mais pequenos, e das meninas as moças, ou as mocinhas, era um modo de dizer carinhoso e adequado aos tempos. 

O que me leva ao elogio da escrita, nesta narrativa de visão e divisão: não cai em elaborações de roupagens estilísticas a despropósito, é realista, sim, mas directa e despida de arrebiques que se usam tantas vezes apenas para encher mais páginas...

Quando a narrativa, mesmo e sobretudo de evocação é genuína, nada mais lhe faz falta. Basta a fidelidade ao que se viveu e se recupera de novo. Com os detalhes necessários, que enquadram o ambiente e as personagens e emoções da altura, apenas talvez com a tal marca de que falava Sagan, o desejo de que mesmo do pouco que somos algo que seja muito permaneça. 

Y. K.Centeno

Lisboa, 2023     






Thursday, November 09, 2023

OS ANJOS DE RILKE, AGORA

 Quem se eu gritasse

me ouviria

de entre as hierarquias

dos Anjos?

E se algum deles

de repente

me tomasse nos braços

e me apertasse contra o peito

 num gesto de grande amor ?

Eu morreria de certeza

pela resposta 

a um apelo gritado

uma pergunta não feita

tal o terror

que perguntar inspirava. 

O silêncio é o domínio

dos Anjos

o pavor a reacção dos humanos

se quebram esse pavor

interrogando.

Deus não permite 

a interrogação

apenas o aceitar submisso

que até aos Anjos impõe.

Que espero eu então 

do meu grito calado

além de um silêncio

que os Anjos

não interrompem?

Morreriam

desfeitos na sua luz

na sua esfera distante

onde o silêncio

e apenas o silêncio

se poderia ouvir.

Como eu 

ficariam imóveis

feitos pedra

cadáveres

aguardando sepultura

numa cova imperfeita.

Ninguém viria a tempo

de estender a mão 

limpar a testa gelada

ou dar o beijo final

da compaixão.

Fiquemos todos então

guardados

resguardados

do temível abraço

do grito

que ainda se afoga

no peito

sem liberdade

nas pregas

da sua oculta ondulação

Y.K.Centeno


 






Tuesday, November 07, 2023

António Caeiro, O que é a Filosofia.

ANTÓNIO CAEIRO, O QUE É A FILOSOFIA?

 A explicação que dá título a esta edição, da Tinta da China, 2023, responde a uma pergunta, sobre o que é a filosofia, começando pela obra de Platão e Aristóteles, que ambos dão início a uma interrogação que ora corresponde ora não, ao que mais nos inquieta: o que somos, nesta vida que é dada, e o que dela fazemos, com o que sabemos, com o que procuramos saber.

António Caeiro, de currículo vasto, nesta e noutras áreas, como na filologia a origem do sentido das definições que se atribuem à filosofia, ajuda a que se entenda melhor a definição usual: é o amor da sabedoria.

Mas definir o que é a sabedoria é uma tarefa difícil. Bom senso, experiência de vida, conhecimento num grau mais elevado do que é o ser, ou mais ainda do que é o universo criado? Do que é o seu criador? Ou ainda conhecimento de si, do que se é, o célebre nosce te ipsum? Conhece-te a ti próprio (porque assim pela via do que és, conhecerás tudo o mais?)

Ler Platão ensina o contraponto do diálogo, argumento e contra-argumento, e em alguns diálogos, como o Fédon ou o Timeu a reflexão sobre o que se é: sombras de uma realidade que nunca poderá ser conhecida, como tal e em si, e ainda, noutra vertente do seu pensamento, a descoberta de mitos, como o da Atlântida, ou o da música das esferas, que percorrerá a nossa cultura ocidental, recuperado por Shakespeare, por exemplo em algumas das suas peças. Ainda, e quem sabe se oferecendo matéria de maior profundidade, a contraposição, no livro X de A República de dois modelos de utopia social: o da cidade perfeita, em que reina a ordem de um pensamento de sábios, sendo eles que dominam e um outro, em que os criadores, os poetas, têm o seu lugar, ao passo que na cidade perfeita não o têm, devem ser expulsos, pois o imaginário criador perturba a ordem racional que se deseja que impere. Uma utopia, a ordem da cidade, um mito, o da criação perturbadora, que iremos descobrir adiante, nas tragédias, o género literário de que Aristóteles, na Poética, será um sistematizador. Mas Platão deixou um rasto na sua doutrina, o das Ideias fundadoras do Belo, do Bom e do Verdadeiro.

Aqui se torna complexo o nosso estudo do que é a filosofia: é a busca destas ideias materializadas no mundo que conhecemos, na nossa realidade? Ou sendo ideias antes fundam o que passaremos a chamar de idealismo platónico na história da filosofia? Ideias, mas não a realidade, matérias do imaginário mas não do conhecimento tal como o entendemos, de conhecimento racional da realidade palpável, por assim dizer. Séculos mais tarde, nos séculos XVII e XVIII ainda veremos que se discute a oposição razão vs. sentimento, racionalismo vs. idealismo sendo este um dos fundamentos do movimento do Romantismo, tal como o conheceremos sobretudo nos grandes criadores alemães.

Antes disso teremos com Descartes a afirmação do pensamento como razão mesma da existência: je pense donc je suis, penso, logo existo.

Embora na versão traduzida, entre o ser e o existir alguma coisa da essência (a essência do ser, segundo Heidegger) se perca pelo caminho. Em o Ser e o Tempo é aprofundada esta questão. A noção do Ser pertence ao reino da imaterialidade intemporal, universal, das Ideias de Platão, ao passo que é no Tempo que se materializa a existência da condição humana que é a nossa, particular, individual, limitada.

A escolha de Kant, sobretudo com a Crítica da Razão Prática, introduz a dimensão moral nesta apresentação das doutrinas filosóficas que até ele não tinham sido discutidas de modo autónomo. A Ética passa agora a ser uma área de reflexão com um estatuto autónomo próprio, que não só tem lugar como ultrapassa a questão do conhecimento só por si. Entram o bem e o mal na discussão dos valores e das opções que se colocam ao homem no momento da escolha.  Sem Kant não poderíamos entender Nietzsche e a sua reflexão em Para Além do Bem e do Mal que teria, como teve, um percurso que chegou aos nossos dias, pela escrita de um Musil, em O Homem sem Qualidades, ou o fanatismo de um Hitler.

Chamo a atenção dos meus leitores para o facto de eu não estar a fazer aqui um exercício de crítica literária, não faço crítica literária, nem tento, ainda menos, fazer crítica filosófica. Converso, ao correr da pena, com este livro de António Caeiro que me seduziu pelo modo como nos apresenta o seu ponto de vista sobre o que é a filosofia, através de uma escolha de pensadores que estão na base e nos dão os fundamentos do pensar filosófico, desde Platão até Heidegger ou Wittgenstein. 

Interessante como no percurso escolhido poderemos ler em Heidegger a transição para O QUE É PENSAR, suas últimas aulas de filosofia. Pois toda a filosofia é pensamento. E como se dá, em Wittgenstein, uma nova transição, muito própria do Modernismo, sobre as questões da linguagem e modos de exprimir o que se pensou e deseja dizer.  A conclusão parece simples, mas não é: wovon man nicht sprechen kann darueber muss man schweigen. Devemos calar o que não conseguimos dizer. Aqui poderia entrar o célebre comentário de Kierkegaard: onde as palavras acabam, entra a música.

Há então um limite no que concerne às palavras, a expressão, o dizer do que seja impossível. Celan trabalhou o dizer impossível, nos seus versos despidos. Mas Wittgenstein, filósofo que se ocupou em simultâneo do pensamento, como Heidegger, e da linguagem, como Saussure e os estruturalistas, pretende ir mais longe, e nega o que lhe surge como impossível. Será contrariado por Valère Novarina, pintor e dramaturgo franco-suíço que o desafia: ce dont on ne peut parler, c'est cela qu'il faut dire. O que é preciso é dizer aquilo de que não se pode falar. E não se pode por um conjunto de razões, nem sempre fáceis. Por ignorância? Por não se entender os fundamentos que obrigariam ao silêncio? A moda? A pressão social ou política? A descrença num mundo de crenças, algumas radicais e temíveis? Ou pura e simplesmente porque conceitos como os da doutrina platónica das Ideias nos parecem tão distantes do real conhecido que falar ou aspirar a um mundo melhor, mais humano e perfeito não só não pode ser credível, como está imbuído de uma irracionalidade chocante para o homem do século XXI, já bastante orientado por logaritmos, e não por sentimentos piedosos, mas que se tornaram caricatos.

E contudo... a filosofia, com o seu pensar este mundo e o outro, e a reflexão sobre o que é a condição humana (a natura naturata de um Spinoza) ainda continua e ainda nos desafia. A sua importância, o seu estudo, são cada vez mais importantes para a mente humana na inquirição precisamente do que é, e do que pode vir a ser, a menos que seja varrida do mundo por alguma catástrofe inesperada e fatal.

Pensar é algo de estruturante, na mente humana. Nasce da imperiosa busca para lá dos Sinais que, como dizia Hoelderlin, tenham perdido o Sentido). E a linguagem, o que é senão essa mesma estrutura já constituída geneticamente que podemos observar, segundo alguns, desde a infância e evoluindo depois segundo o meio cultural, social, político em que cada um se desenvolve. Discute-se nesta aquisição da linguagem, se é algo de adquirido ou já inato. 

O problema não se coloca a um filósofo, no seu percurso, em que é o pensar que estrutura as suas ideias e a exposição das mesmas, ora seguidas ora contrariadas, como na acentuação do Racionalismo face ao Idealismo ou ao místico neoplatonismo que virá a ter grande influência no século XV, com as primeiras traduções dos antigos clássicos feitas por Pico della Mirandola, Marsilio Ficino e Reuchlin (para a Kabalah judaica). Com eles tem início o chamado Humanismo no Renascimento filosófico e literário (e podemos dizer, em parte, místico, com as traduções de Platão e Plotino). Em Pico della Mirandola é especialmente interessante o seu discurso Sobre a Dignidade do Homem, que fundamenta esse novo conceito de Humanismo, que surge em ligação com o Renascimento.

Trazer a discussão à dignidade humana, sendo o homem uma criação divina, relaciona um com o outro, o homem com Deus, a dignidade suprema, e Deus com o homem, a sua suprema criação.

 Por aqui podíamos regressar a Kant, e à sua Razão Prática, voltando a aprofundar o conceito de Moral e criando um espaço filosófico, o da Ética.

Nesta procura do saber, pela via do saber filosófico, percorre-se um caminho em que tudo está ligado, desde o princípio ao fim que ainda não conhecemos, mas pelo qual vamos, por tentativas, procurar entender o que pode significar. Torna-se explícita a necessidade de ser curioso, de ir fazendo perguntas, ainda que fiquem sem resposta, pois sem a curiosidade que nos move, em nada poderemos progredir, nem na ciência, nem na sabedoria da experiência de vida que é a nossa. A filosofia, pouco a pouco, é isso que nos mostra: o amor e a curiosidade de saber. Saber mais sobre o homem (a dada altura será diálogo com os eus da consciência e do inconsciente) a natureza e o mundo. Um mundo que se alarga para lá do planeta conhecido até ao cosmos infinito.

Até agora passeei por um jardim, com alamedas cuidadas, cada uma conduzindo a uma saída possível, diferente, e com um pequeno banco onde nos pudéssemos sentar, a reflectir. Está na hora de apresentar melhor o Jardineiro, fazendo-lhe a justiça que merece, pois foi ele sempre, e continua a ser, o Cuidador. 

Cito-o, como é devido, nas suas conclusões: 

" No tédio profundo renasce o espírito da filosofia. A filosofia exige a transparência relativamente ao modo como temos vivido, como temos sido com os outros, como temos sido com a nossa própria possibilidade, o nosso potencial. Essa transfiguração e metamorfose podem durar um breve lapso de tempo, numa manhã, no local mais insuspeito, como o corredor da nossa casa a caminho de uma divisão. Nesses momentos faz-se a experiência da vida no estrangulamento do seu sentido. É também aí que nasce a possibilidade de ser quem se é. Portanto, a filosofia não acontece num horário determinado. A possibilidade da filosofia dá-se no interior da existência, 24 horas por dia, sete dias por semana. Porque é óbvio que não nos encontramos nessa situação extrema e radical. O que aconteceu no tédio profundo foi uma vivência que temos de rever e tentar compreender vezes sem conta. A possibilidade de vivermos uma pergunta é também a sua resposta. Depois de nos ter acordado para a existência, a filosofia tem de ser mantida acordada, não a podemos deixar adormecer, porque a ditadura do quotidiano pretende vingar e fazer esquecer-nos do que verdadeiramente nos aconteceu." (p.367).

Descubro aqui uma coincidência (sincronicidade?) com o que Clarice Lispector chamaria a sua Hora da Estrela. Não estão longe um do outro esta autora que comecei a ler aos 18 anos e que agora me chega do passado e este filósofo, moderno criador que nos explica e inspira para um despertar também ele de estrela. 

 Y. K. Centeno

Lisboa, 7 de Novembro, 2023.