A EDUCAÇÃO PELA PEDRA
Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impesoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistencia fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra ( de fora para dentro,
cartilha muda ),para quem soletrá-la.
***
Outra educação pela pedra: no Sertão
( de dentro para fora, e pré-didáctica ).
No Sertão a pedra não sabe leccionar,
e se leccionasse não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.
João Cabral, se não conheceu, gostaria de ter conhecido o Guillevic das pedras de Carnac, o que vê nelas um imperativo de carácter, como o nosso poeta brasileiro vê nelas a permanencia da condição humana, inalterada, inalterável.
A Educação pela Pedra faz-se pela moral, rígida, e pela ossatura concreta do poema na carne e no papel. É uma cartilha difícil a que nos é oferecida, se não mesmo impossível, na plena exaltação das práticas experimentalistas e quase libertárias.O exemplo do Sertão já é algo diferente: aqui o ser humano virou pedra, é essa a sua tremenda condição.
Podia agora sugerir que lessem, na mesma Educação pela Pedra, o surpreendente, ou talvez não, poema alquímico por excelência neste conjunto de João Cabral:
FAZER O SECO,FAZER O HÚMIDO
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