Friday, April 21, 2006

O FOGO DE MAGRITTE



Por muito que Magritte afirme não ser surrealista,o que se aceita pois ele criou a dada altura fora desses circuitos doutrinais quando se tornaram demasiado escolares ou políticos e impositivos, há na sua obra um quase excesso do simbólico , misterioso e actuante, provindo ou não do sonho, e por muito que o pintor afirme não acreditar no reservatório imenso que é o inconsciente, pessoal ou colectivo.
"Não creio no inconsciente, nem que o mundo se nos apresente como um sonho,de maneira diferente da do sono."

Contudo este é o mesmo Magritte que lamentará, na década de 50, que Breton não procure mais a Pedra Filosofal. A recusa, por parte de um artista, das marcas que o perturbam, como podem ser estas do inconsciente, é no fundo o reconhecimento de que elas existem, de forma mais ou menos explícita.

É interessante ver como o pintor trabalha a matéria das imagens simbólicas nos seus quadros. Nos anos 30 /40 o fogo está presente: veja-se O CICERONE, de 1947 : da boca de um ser mais máquina do que homem sai uma labareda poderosa; ou veja-se A DESCOBERTA DO FOGO, de 1934/35: um enorme saxofone a arder; ou ainda, a ESCALA DO FOGO, de 1939: sobre uma mesa, 3 elementos: papel amachucado a arder, um ovo a arder, uma chave ( a da solução ? ) igualmente a arder.Do papel amachucado podemos dizer que por aí se manifesta a recusa da literatice que também os alquimistas censuram; e quanto aos outros elementos, o significado também é claro: o ovo (da vida) que tem de ser tocado, como em Maier, ou queimado (sublimado) para que a chave da vida seja entregue.

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