Friday, June 05, 2009

Hein Semke (1899-1995) por Teresa Balté


Em terceira reedição ampliada, Teresa Balté apresenta agora a vida e obra do pintor Hein Semke  que, desde a chegada a Portugal vindo da Alemanha, fez do nosso país a sua pátria, o seu permanente espaço de criação. Uma criação que abrange pintura, escultura, desenho,  cerâmica, gravura - já para não falar da sua escrita filosófica e poética, num natural complemento do seu longo e multifacetado percurso artístico. 
Como escreveu José Augusto França impunha-se conhecer esta documentação, "para a história": mas impõe-se mais, conhecer a sua obra, para a verdadeira história da criação artística europeia e portuguesa.
Semke chega a Portugal com a herança e a marca de um expressionismo feito da revolta e do idealismo místico que encontrávamos, nas primeiras décadas do século XX, na poesia e na produção dramática mais marcantes da Alemanha do tempo. Penso em Kokoschka, por exemplo: e vejo ecos da sua intensidade na côr e no dramatismo de alguma pintura de Semke. Mas há outros, como Barlach, muito de sua preferência, e esta linhagem tem de ser apreendida pelos críticos para fazerem jus à sua obra, no que tem de herança e de ampliação original.
A sua cultura era imensa e abarcava a filosofia, a literatura, o pensamento religioso de muitas e diversas tradições, que o levarão a fazer grandes livros de arte de que destaco o da Índia, entre outros.
A sua curiosidade pela tradição popular leva-o também a estudar as formas da criação dita primitiva - interessou-se aqui pela obra de Rosa Ramalho, a criadora de Barcelos que se tornou célebre com os seus Cristos, os seus animais, os seus Presépios e Ceias, hoje peças de colecção. Picasso fazia o mesmo em Paris, estudando as formas da estatuária africana.
Interessante é ver como a um artista todas as manifestações interessam - não há arrogância no olhar de um criador, há curiosidade e interrogação: ele interroga o mundo, que lhe responde, e das muitas respostas será feita a sua obra.
Como escreve Teresa Balté no prefácio, esta reedição foi pensada para 2005, por ocasião dos dez anos passados sobre a morte de Hein. Mas o tempo não conta, para a divulgação da arte e de um artista.Encontramos aqui muita matéria para ler e meditar: " trata-se de uma cronologia - de factos, textos e imagens " como diz a autora, contibuindo para o essencial do levantamento da obra.
Trata-se, na minha opinião, de um valioso documento histórico  e sociológico, pois o Portugal do meio artístico é aqui dado a conhecer, através dos artigos e críticas do tempo, no que têm de melhor e de pior.
Pois não nos iludamos: se nunca é fácil o caminho do artista, mais difícil se torna ao enfrentar, num país pequeno, à época fechado ainda sobre si mesmo, a mesquinhez de uma sociedade inculta, pouco viajada (não podendo por isso "comparar"  e conhecer é comparar), não podendo e por vezes não tendo mesmo querido, reconhecer a importância da originalidade da criação e das múltiplas formas e técnicas de abordagem que Hein Semke, o Wanderer tranquilo, à época foi expondo e propondo ao nosso meio cultural e artístico.
 Agora temos o livro, num gesto de evocação merecida.
Termino com um fragmento de um seu poema de 1949:
...
Não sou artista
Nem sou poeta:
Sou sonhador
E tudo o mais também.

É isto que nos faz falta, no século agora XXI: a coragem do sonho.

(colecção arte e artistas, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa 2009)

3 comments:

εϊз Anne Cris εϊз said...

Acho que você vai adorar conhecer este blog:
www.pensamentofascinante.blogspot.com
Passa lá pra conferir! É de um amigo que merece meu esforço para divulgação....

Vicente Ferreira da Silva said...

Profa., Yvette Centeno,

muito gostaria que fosse conferencista num ciclo de conferências - Diálogos com a Ciência - que estou a comissariar para a Reitoria da Universidade do Porto.

Pode indicar-me um email e/ou telefone para onde possa falar-lhe directamente?

Muito obrigado.
Vicente Ferreira da Silva

doinatingivel@gmail.com

Yvette Centeno said...
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