Nesta obra Peterson dá seguimento a um anterior volume, em que propõe igualmente 12 regras de vida, mas desta vez ampliadas a mais temas, que passam inclusivamente pela dôr, pelo sofrimento no limite do inaceitável, e de como ultrapassar tais situações. Escrevi na altura em que li algumas considerações no facebook, sobretudo nas que tocavam no efeito curativo da arte, da relação com a pintura, com a música, ou a literatura. A arte como esfera de elevação do eu a um outro patamar em que o sentido da vida, mesmo em pleno sofrimento, podia ser recuperado.
Peterson considera que a súbita descoberta dos valores morais e religiosos do cristianismo, melhor, do catolicismo, que desconhecera até esse momento difícil da sua vida, pessoal e familiar foram mais do que uma ajuda preciosa um quase milagre.
Dirige-se ao seu numeroso público do youtube quase em lágrimas, profundamente comovido, para confessar o que sente: espanto perante uma fé que vive e não entende. Pede que não lhe perguntem se acredita em deus, mas afirma: tento viver como se deus existisse. Por outras palavras, o que nos diz é que devemos valorizar a ética, nos nossos comportamentos, não pregar aos outros o que não praticamos, porque religião ou moral de boca não é algo de genuíno que deva ser respeitado, e temos de ser exemplares para que nos respeitem.
Podemos achar por vezes, no livro que agora leio, um certo estilo americano de simplificação de matérias tão complexas como esta da religião e da fé, para que o grande público, menos culto, o possa acompanhar no que pretende dizer. Mas no essencial a sua mensagem, tendo na psicologia o modelo de Jung, de valorização do espírito e da alma, leva-nos a prestar mais atenção ao mundo dos arquétipos, dos mitos e dos símbolos, como matéria prima para o nosso enriquecimento pessoal, e de quem nos rodeia, numa sociedade doente, materialista, sem valores que não sejam o do prazer e do ganho imediato.
Tarde ou cedo a hipocrisia do ganho imediato nos fará pagar caro, no mundo, essas escolhas erradas. Depressões, fome, miséria, será esse o destino de um planeta que ajudámos a destruir, quando precisava de ser salvo.
Peterson escolhe muitos exemplos da Bíblia, e dos muitos livros que leu e fundamentam o seu discurso erudito. Fala, sabendo do que fala. Estudou a filosofia ocidental desde os primórdios dos gregos, dos pré-socráticos a Platão. Podia dar muitos exemplos, de como o antigo pensamento levou ao conhecimento que hoje é valorizado, e estrutura a cultura do ocidente.
Mas aí entra a nova reflexão, dos valores do cristianismo, uma nova moral, exigente e exigindo um novo comportamento, de respeito e entrega ao outro, amando o outro como a si mesmo. Uma das regras de que nos fala Peterson é essa do olhar generoso, que perdoa, mais do que castiga, que se concentra no estudo de si mesmo para alcançar maior perfeição, sabendo embora que o caminho para a perfeição será sempre difícil, sinuoso, que passa por não fazer o que se detesta, como ele diz, e por abandonar o vício da ideologia, que reduz, não amplia, o carácter de cada um no seu modo de vida em sociedade.
No fundo, nestas regras que propõe, exige coerência entre o discurso e os actos, o pensamento doutrinal e a prática, que deve passar também pelo perdão, como em Jesus Cristo, modelo da mudança universal que se deseja. A última das regras proclama: " Sê grato, apesar do sofrimento".
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