O Cântico de Cybele
“Tudo em
repouso:
A treva e a luz,
A flôr e o livro”.
( Rainer
Maria Rilke, Sonetos a Orfeu )
A
lua cobriu o rosto
com a sua nuvem lilás:
ouviu-se
dentro da noite
uma raiz
arrancada
uma flauta
a soluçar
Vai
o veleiro cortando
as
ondas das águas claras
ao
leme a criança eterna
aprendendo
a navegar
onde
irá ter o veleiro:
ao
areal desejado
ou
à
profundeza do mar?
Orfeu
demorava-se
ali,
abraçando
a sua Amada
junto
às pedras do ribeiro.
Disse
à deusa:
quem
me verá renascer
quem
dirá meu nome
inteiro?
A
deusa disse à Amada:
vem
ter comigo
quando
quiseres chorar,
guardei
Orfeu
no
meu peito
vamos
num carro
de luz
não
te vou abandonar
É
tempo.
Busquemos
aquelas grutas
onde
se formam
as
almas:
são
elas que nos protegem,
contam
os dias
as
horas
dizem
os nomes inteiros
de
quem vai a caminhar
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