Leio hoje num jornal de referência uma longo artigo de Diogo Ramada Curto evocando a memória de Alfredo Margarido, um universitário que se quis sempre à margem da rotina académica mais medíocre, por feitio, como se diz no artigo, mas não apenas por isso.
O sistema académico - sim, também no meio académico há sistema, não é só no futebol - não promovia no nosso tempo os melhores, mas os mais cordatos, os mais pacíficos, os mais seguidores de modas e mestres que nem sempre o eram.
Alfredo, insubmisso, com uma insubmissão que me faz lembrar, na poesia, Herberto Helder, não se podia dar bem com a tradicional Academia portuguesa.
Possuidor de cultura política vasta, bem como de cultura literária e filosófica, dificilmente se deixaria enquadrar nesta ou naquela imposição doutrinária. Havia ordem? Ele desobedecia!
Nas suas aulas obrigava a pensar, a estabelecer "pontes" que à primeira vista podiam não se ver (como no Conto de Goethe) : era necessário estudar para as construir, num discurso mais subtil e mais elaborado. Era preciso ter capacidade de entendimento e de conhecimento.
Faltou, nesse justo texto de evocação, uma referência não menos importante ao seu contributo, nas letras portuguesas, para o que se chamava de nouveau roman, com um romance pioneiro e de há muito esgotado ( e ignorado?): guardo-o, na estante que chamo "dos amigos" junto com outros que foram e são igualmente marcantes, embora não os reeditem: os editores são, como o resto do país, uma gente ora inculta ora ingrata.
Refiro-me a A Centopeia, de 1961, hoje em dia impossível de encontrar a não ser por sorte em livreiros antiquários.
Mas fica a sugestão: reedite-se uma obra pioneira pelo tema, a experiência africana, e sobretudo pela inovação da escrita.
No comments:
Post a Comment