Monday, April 21, 2008

Corpus Jan Fabre



Obra magnífica, sobre o percurso artístico de um grande artista, Jan Fabre.
Como nos diz  Luk van den Dries, no prefácio,a obra de Fabre incarna uma das formas exemplares do teatro do nosso tempo.
Teatro radical, implantado em profundidade: guarda o eco da grande tradição, os primeiros rituais, o teatro grego, os dramas da Idade-Média, Renascimento e Barroco.
Um teatro feito de memória, actualizada.
O livro é uma compilação de ideias, antes de mais. Mas ainda de palavras e imagens. Contempla os segredos do trabalho do palco, à medida que  vai sendo preenchido com os seus corpos próprios: dos actores, e do guia que é Fabre, mesmo no improviso, ou sobretudo no improviso. O melhor improviso é o que foi mais profundamente reflectido, preparado. Não há arbitrariedade na grande arte, quem não perceber esta lógica da criação original, está longe de poder vir a ser um criador. 
Diz Luk que o seu livro tenta penetrar " na alquimia da criação". Fabre é o grande alquimista, o grande transformador que sublima a imperfeição da existência no corpo. Mas esse é o desafio: a imperfeição do corpo, que o seu trabalho alquímico em todos os sentidos ajudará a ultrapassar. 
Ao abordar a imagem do corpo na obra de Fabre, Luk aborda de igual modo uma concepção moderna da estética do teatro.Passo a citar, lembrando que muito do que é dito se pode igualmente aplicar à dança, como arte suprema do corpo no espaço.
" O teatro é uma arte contaminada.Uma arte contaminada pela vida.E trazida por actores que não podem subtrair-se à sua forma humana, seu peso, a envergadura dos seus membros, seu sexo.Aparece um corpo, aparece   sempre um corpo, e nós olhamos para ele.Este corpo fala, sua, liberta uma aura, atrai ou repele. O teatro é um media carnívoro. Alimenta-se de corporalidade, de corpos que não se podem controlar, que são ignorantes das leis e excerbam ingenuamente as suas próprias paixões. Corpos que querem tudo e cada vez mais. Namorando perigosamente as fronteiras do impossível, desafiando as interdições da moral....O teatro é um cadafalso a partir do qual os corpos se lançam no abismo". 

1 comment:

À Sombra do Café Nice, por Luciano Garcez said...

Jan Fabre é traz personificação dos conteúdos simbólicos antes místicos, mas agora preenchidos por humanidades.