Wednesday, October 04, 2006

Orfeu com a sua lira



Para os melómanos, de novo Gluck, com mais uma belíssima encenação de Robert Wilson.Para os leitores de poesia, os poemas de Orfeu tal como os encontramos nos mistérios da Grécia antiga :

Noite, é a ti que o meu canto celebra
Mãe dos deuses e dos homens.
A noite é a origem de todos os seres...

O hino à noite merece ser lido comparando depois com ele o célebre poema de Álvaro de Campos:

Vem, Noite, antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio.Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faz da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe.
....

1 comment:

Carlos Francisco said...

Desculpe-me, mas a encenação de Wilson é péssima, pois retira de cena dois elementos essenciais da ópera (qualquer ópera): cor e movimento. Quando se pensa no Barroco, então...